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O escritor francês Marcel Proust afirmou certa vez que muitas vezes nós nos dispomos a acreditar que o presente é o único tempo possível da vida. De fato, no cotidiano das empresas, é fácil encontrar empreendedores de sucesso que se esquecem facilmente de como foi o seu primeiro dia. 

O primeiro dia deveria ser sempre resgatado da memória do empreendedor: a ansiedade, a espera, a confiança, o frenesi – numa palavra, a certeza de que seu sonho começava a se transformar em realidade naquele dia.  

É no primeiro dia que uma pessoa comum dá o primeiro passo para se transformar num empreendedor. Trata-se de algo que não pode ser reduzido a uma experiência de laboratório, não pode ser ensinado nas salas de aula.   

É algo que fica na mente das pessoas, naquele lugarzinho especial onde habitam as ideias e o pensamento, que voam rapidamente para lugares inimagináveis – coisa que somente a mente humana pode proporcionar. Não fica na parte da mente onde as lâmpadas se acendem e os estalos acontecem, mas numa parte mais obscura e povoada por muitas dúvidas.  

É o mesmo lugar onde ficam as preocupações com o futuro da família, a renda que não paga todas as suas despesas, a fatura do cartão de crédito, a prestação da casa – que é pequena para todos os membros da família.  

Este primeiro dia é um momento de grande exposição, de expectativa, de angústia e ansiedade, e por isso nem sempre é lembrado com clareza. 

Jeff Bezos, o lendário empresário americano fundador da Amazon, encontrou um jeito todo especial de falar sobre esse primeiro dia, que para ele não é uma data do calendário, mas uma combinação de emoções, frenesi, ansiedade, autoconfiança, inseguranças, dúvidas...  

Em 2021, ao comemorar os 26 anos de fundação da Amazon, ele enviou uma carta para todos os acionistas e colaboradores da empresa intitulada “Always Day One” (Sempre o primeiro dia)”, na qual ele afirmava que devemos sempre reviver essa dinâmica todos os dias, porque isso gera energia e motivação: combustíveis essenciais para o sucesso de qualquer empreendimento. O empreendedor precisa manter sempre essa combinação mágica, porque ela representa adequadamente o espírito empreendedor, o que faz com que sonhos se transformem em realidade, ao mesmo tempo em que permite encontrar um tipo de negócio que o faça feliz. 

Planejar ou empreender?  

Na literatura do empreendedorismo, existe uma longa discussão entre duas escolas, a escola do planejamento e a escola do aprendizado. A primeira postula que a eficácia das ações de uma empresa só pode ser alcançada por meio de planejamento. Já a escola de aprendizado afirma que a prática de tentativa e erro em uma abordagem incremental é o ideal para a construção de uma nova empresa. 

A maioria dos cursos de negócios e empreendedorismo dá ênfase à escola do planejamento, na montagem de um plano de negócios. Pode-se então supor que a relação entre fazer um plano de negócios e o desempenho, crescimento e sobrevivência das empresas está firmemente estabelecido? 

Não. O caminho para o sucesso não é uma linha reta, como pretende a escola de planejamento. O autor de negócios Paul Brown conta que pesquisou empreendedores de sucesso pedindo os planos de negócio originais destas empresas e que, ao analisá-los, descobriu que os planos não tinham quase nenhuma relação com aqueles negócios de sucesso. 

Um novo método, chamado Effectuation (abordagem efetiva), da professora indiana Saras Sarasvthy, da Darden School of Business (Universidade de Virgínia), preconiza fazer as coisas com o que há disponível, de modo a ajudar os empreendedores em potencial no processo de identificação de oportunidades e na criação de novos negócios. 

Então, a melhor sugestão para o empreendedor é a mistura das duas abordagens. Fazer um bom planejamento é importante para organizar as ideias, entender o que ainda não se conhece. Há uma série de recursos disponíveis sobre como montar o plano de negócios.  

Mas o plano inicial provavelmente será alterado ao longo da jornada e, por isso, não pode ser uma camisa de força. Ao mesmo tempo, acessar uma rede de confiança dará acesso a recursos que aumentarão o portfólio de ações possíveis, permitindo a operação em larga escala, o controle das perdas possíveis, trazendo informações que poderiam ser obtidas apenas na base do planejamento e em informações secundárias.  

Ou seja: é necessário planejar e aprender ao mesmo tempo. 

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