O relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2021 mostra como os pequenos negócios conseguiram enfrentar o impacto da pandemia da Covid-19 no Brasil
Estudo comprova bom desempenho do empreendedorismo, como na Aguimar Ferreira Chocolateria, em Brasília, retratada pela Expedição Sebrae 50+50 (Foto/crédito - Erivelton Viana)
O número de empreendedores brasileiros à frente de um negócio com mais de 3,5 anos voltou a crescer no país. É o que aponta o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2021, divulgado em 24 de março, em Brasília, em coletiva com o presidente do Sebrae, Carlos Melles. A divulgação dos resultados integra o calendário do Projeto Sebrae 50+50, voltado para a celebração do cinquentenário da instituição, fundada em 1972.
Realizada no Brasil em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), a maior pesquisa de empreendedorismo do mundo indica que, mesmo com os reflexos da pandemia, a Taxa de Empreendedores Estabelecidos teve um incremento de 1,2 ponto percentual e passou de 8,7% da população adulta, em 2020, para 9,9%, em 2021.
Para o presidente do Sebrae, Carlos Melles, esse resultado aponta que parte dos empreendedores que abriram uma empresa nos últimos anos conseguiu sobreviver à pandemia, o que deve ser visto como um ponto positivo. Ele também ressalta que esse dado pode ser reflexo de medidas como maior acesso a crédito, por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), e de programas como Auxílio Emergencial e Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm).
“Essas iniciativas deram mais fôlego para os empreendedores e permitiram que eles sobrevivessem aos impactos da pandemia. Esses programas foram essenciais para que muitas empresas se mantivessem abertas”, enfatiza o presidente do Sebrae.
Melles destaca que a Taxa de Empreendedores Estabelecidos, apesar de ter sofrido uma forte queda entre 2019 e 2020, foi a única que apresentou alta em 2021, o que corrobora a tese de que, além dos programas de auxílio, a experiência dos empreendedores também garante uma melhor gestão da empresa. O relatório da GEM mostra que a Taxa de Empreendedorismo Inicial – composta por “nascentes” (quem realizou alguma ação visando ter um negócio ou abriu um em até três meses) e por “novos” (com 3,5 anos de operação) – sofreu uma queda de 2,4 pontos percentuais e atingiu o patamar de 21%.
De acordo com a pesquisa, os empreendedores nascentes mantiveram o recorde alcançado em 2020, com uma taxa 10,2%, o que evidencia que ainda há muitas pessoas procurando o empreendedorismo como alternativa de ocupação, na chamada “porta de entrada” do empreendedorismo. Já entre os novos, houve uma queda, passando de 13,4%, em 2020, para 11%, em 2021, o que sinaliza que parte dos empreendedores que abriram um negócio nos últimos anos não conseguiu se manter e outra parte foi para os estabelecidos.
“Entre os anos de 2019 e 2021, houve uma redução de 4,7 pontos percentuais entre os empreendedores novos, o que demonstra que muitos foram impactados fortemente pela pandemia. É a maior queda bienal da série histórica, ou seja, temos um grande volume de pessoas entrando, mas também saindo”, comenta o presidente do Sebrae. “A queda na Taxa de Empreendedorismo Inicial fez com que a taxa total de empreendedorismo no Brasil caísse pelo segundo ano consecutivo e ficasse em 30,4%, valor semelhante ao de 2012, o que confirma uma acomodação do empreendedorismo no pós-pandemia."
Empreendedorismo por necessidade
Em 2021, o Brasil apresentou uma queda na taxa de empreendedorismo por necessidade. Cerca de 48,9% dos empreendedores iniciais abriram um negócio, no ano passado, em busca de uma fonte de renda. Em 2020, esse percentual foi de 50,4%. Apesar da redução, esse ainda é o terceiro patamar mais elevado da série histórica, aponta a pesquisa.
“A pandemia teve início em 2020 e junto com ela cresceu a quantidade de desempregados, motivados, em muitos casos, pelo grande número de restrições nas atividades econômicas. Com a vacinação e o arrefecimento das medidas restritivas, as empresas voltaram a funcionar e a contratar, o que pode ter reduzido o empreendedorismo por necessidade”, pontua Melles.
A taxa de empreendedorismo por necessidade é composta por empreendedores nascentes, aqueles que pensam em abrir um negócio ou já o fizeram em até três meses, e pelos novos, que possuem um negócio entre três meses e 3,5 anos. Em 2020, 53,9% dos empreendedores nascentes foram para o caminho do empreendedorismo por necessidade. Já em 2021, esse indicador caiu para 49,6%. Entre os empreendedores novos, em 2020, eram 47,9% por necessidade e, em 2021, subiram para 49,3%.
“O que podemos entender desse resultado é que a maioria das pessoas que entraram no empreendedorismo em 2020 foi movida pela necessidade. A parte boa é que, exatamente na “porta de entrada” (os empreendedores nascentes), verificamos uma redução em 2021. Outro ponto positivo é que, no ano passado, o empreendedorismo por oportunidade voltou a motivar mais da metade dos empreendedores iniciais (quando se somam os nascentes e os novos)”, conclui o presidente do Sebrae.
Escolaridade mais alta
O relatório da GEM também assinala que os empreendedores iniciais estão mais escolarizados: 28,5% deles têm curso superior completo. Esse resultado é o maior já detectado desde o ano de 2013 e apresenta um aumento em relação a 2020, quando 24,4% dos empreendedores iniciais possuíam essa mesma escolaridade. Já os entrevistados com, no mínimo, ensino médio completo, correspondem a 47,1% do universo pesquisado.
“Quanto mais escolarizado o empreendedor, mais propenso ele é a empreender por oportunidade e a realizar um planejamento, o que acaba garantindo uma taxa mais alta de sucesso. Esse avanço na escolaridade é fundamental para a melhoria do empreendedorismo brasileiro”, assegura o presidente do Sebrae, Carlos Melles.
O principal grupo que motivou essa evolução foi o de nascentes, aqueles que realizaram alguma ação visando ter um negócio ou abriram um em até três meses. Nesse estrato, a proporção dos que têm nível superior passou de 22,4% para 25,6%, entre 2020 e 2021. Entre os novos (com até 3,5 anos de operação), a proporção com nível superior passou de 26,6% para 31,3%.
Faixa de renda
Apesar do aumento da escolaridade, esse resultado ainda não se refletiu no acréscimo da renda do empreendedor inicial. De acordo com a GEM 2021, 57% deles ganham até três salários-mínimos. “Podemos inferir que os empreendedores iniciais são de baixíssima renda e que grande parte deles são potenciais microempreendedores individuais (MEI) ou que se formalizaram há pouco tempo nessa figura jurídica”, comenta o presidente do Sebrae. Os empreendedores iniciais que ganham entre três e seis salários-mínimos equivalem a 29,4%, e os que recebem acima de seis salários-mínimos são 13,6%.
Pesquisa GEM
A GEM é a maior pesquisa de empreendedorismo do mundo. Nos seus 22 anos de existência, 110 países participaram desse mapeamento, que já promoveu mais de 10 milhões de entrevistas. O Brasil participa do relatório desde 2002. Em 2021, participaram da pesquisa 50 países. No Brasil, foram realizadas duas mil entrevistas com pessoas entre 18 e 64 anos e com 46 especialistas no período de julho a outubro de 2021.
Café com o presidente Carlos Melles: entrevista coletiva por videoconferência para apresentação de números sobre a situação dos pequenos negócios no Brasil (Foto/crédito - Charles Damasceno)
Confira infográfico especial com mais informações sobre a pesquisa
Fonte: Agência Sebrae de Notícias
Sobre o Sebrae 50+50
Em 2022, o Sebrae celebra 50 anos de existência, com atividades em torno do tema "Construir o futuro é fazer história". Denominada Projeto Sebrae 50+50, a iniciativa enfatiza os três pilares de atuação da instituição: promover a cultura empreendedora, aprimorar a gestão empresarial e desenvolver um ambiente de negócios saudável e inovador para os pequenos negócios no Brasil. Passado, presente e futuro estão em foco, mostrando a evolução desde a fundação em 1972 até os dias de hoje, com um olhar também para os novos desafios que virão para o empreendedorismo no país.
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Abrir uma startup dá trabalho e muitos empreendedores não veem a hora de conquistar um aporte para poder expandir seus negócios. Mas, investimentos são baseados em critérios como confiança, retorno sobre o capital e o encaixe entre as estratégias do fundo e da empresa investida. Por isso, um investimento em early-stage (fase inicial) pode demorar mais do que você pensa. Cada investidor tem um timing próprio e um processo de avaliação diferente. No Brasil, existem quatro tipos mais comuns de investidores:1. Angels que atuam individualmente Também conhecidos como “investidores-anjo”, se tiverem boas referências do empreendedor e do projeto, podem levar de 2 a 8 semanas para investirem uma média de R$ 100 mil (ou até mais que isso, em alguns casos).2. Grupos de Angels Grupos de angels atuando em conjunto costumam avaliar projetos em fóruns semestrais. Aproveitando a janela de oportunidade e sendo aprovado para os fóruns na hora certa, você pode conseguir de R$ 200 mil a R$ 500 mil em até 3 meses.3. Fundos de capital semente com recursos privados (como a Astella ou Monashees): Os fundos com recursos privados geralmente definem suas próprias regras porque tem mais flexibilidade para negociar acordos junto aos seus diversos investidores. Alguns deles podem avaliar sua empresa, sumir por um tempo e reaparecer com uma proposta. Outros podem ajudá-lo a melhorar a empresa informalmente e, ao final de vários meses de interação constante, fazerem uma proposta formal de investimento para fechá-la em poucos dias. Fundos como esses tendem a fazer um primeiro aporte de R$ 200 mil a R$ 1 milhão em um período entre 3 a 6 meses para projetos realmente atrativos.4. Fundos de capital semente com capital público em sua composição (como a Confrapar e alguns fundos da FIR Capital) Nesse caso, os fundos têm regras específicas e investidores institucionais, aumentando a formalidade do processo de avaliação. Por isso, podem levar de 3 a 6 meses somente para avaliar se a empresa está apta a receber um investimento de entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões. Na média, projetos maduros recebem R$ 2 milhões em até 6 meses, contando 3 meses para avaliação e 3 meses migrando a empresa para a nova estrutura de capital. Como organizar seu contato com investidores Interagir com o tipo certo de investidor é importante porque traz conselhos relevantes e ajuda a medir a atratividade do seu projeto. Mesmo assim, essa prática deve ser muito bem gerenciada: o empreendedor não pode ficar muito tempo sem obter feedback, mas também não pode gastar tempo demais atendendo às demandas dos investidores. Também é importante ressaltar que a pior hora para conseguir investimentos é quando o dinheiro acaba, a ponto do projeto congelar ou mesmo morrer. Planeje-se para engrenar sua startup antes dessa hora chegar ou gerencie seu contato com os investidores certos para acioná-los na hora certa. Autor convidado: Yuri Gitahy, fundador da Aceleradora.