Quando se trata de abrir o capital da empresa para investimentos, ainda surgem muitas dúvidas, sobretudo quando falamos de micro ou pequenos negócios. O primeiro passo para receber investimentos é “organizar a casa”.
Estabelecer resultados para os quais os aportes serão usados, ter em mente o prazo para que eles sejam alcançados e definir o tamanho do investimento que espera receber são questões que merecem atenção. Nesse contexto, muitos empreendimentos começam essa trajetória com a ajuda do investidor-anjo.
Esse investidor, como explica a analista de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae, Maria Auxiliadora, é uma pessoa com ampla experiência de mercado, que pode contribuir para o crescimento da empresa com capital e relacionamento. “É uma boa opção para quem está iniciando uma startup. O investidor-anjo costuma ser mais próximo do empresário, oferecendo conselhos e orientações, além do capital”, diz.
Entrevista
Confira a seguir a entrevista completa com a analista sobre o tema.
O que é um investidor-anjo e por que ele recebe esse nome?
O investidor-anjo é um profissional com uma certa bagagem de mercado, normalmente empresário, executivo ou profissional liberal, que entra na empresa para agregar valor, compartilhando seus conhecimentos, experiência e rede de relacionamentos além de recursos financeiros. Costuma conhecer o mercado de startups ou o segmento de atuação da empresa. Sendo que muitos investidores anjos atuam paralelamente em vários negócios.
Recebem esse nome por dedicarem parte do seu tempo e recursos com o propósito de desenvolverem os negócios em sua fase inicial. Contudo, é importante saber que em troca desse investimento de tempo, networking e capital financeiro, eles passam a ter participação minoritária no negócio. Lembrando que não assumem uma posição executiva na empresa, mas sim apoiam o empreendedor com conselhos, experiências, informações e conexões. Tudo isso para aumentar as chances de sucesso do negócio.
Costumeiramente, qual é o perfil dos investidores-anjo?
São profissionais experientes, com um vasto conhecimento de mercado, que buscam diversificar seu portfólio de investimentos e usam sua experiência em negócios para ajudar startups a escalarem. Contam com uma ampla rede de relacionamento, abrindo portas e fazendo conexões estratégicas para a startup.
Como funcionam os aportes feitos por investidores-anjo?
O investidor-anjo realiza aportes em troca de ações ou cotas da empresa, oferecendo capital em troca de uma parcela do negócio. No processo de captação de investimento realizado pelas startups, o investimento-anjo normalmente é o primeiro aporte. O ticket médio do investimento-anjo pode variar muito, vão de R$ 10 mil até R$ 1 milhão. O modelo de investimento pode se estruturar de duas maneiras: a primeira quando o investidor tem ações preferencias da startup ou quando realiza uma dívida conversível em papéis da empresa.
O que uma startup pode fazer para atrair investidores-anjo?
É importante que o empreendedor avalie alguns pontos antes de buscar investimento: o recurso é mesmo necessário? Já utilizou todas as reservas dos sócios no empreendimento? Identificou uma dor real do mercado que pretende atender? Já validou sua ideia? Respondido de forma positiva as questões anteriores, é preciso definir qual é o destino desse investimento. Será para contratação de funcionários, criação de novos produtos, atingir um maior faturamento em um prazo imediato, atingir novos mercados? Também é necessário definir onde quer chegar e os resultados esperados com o investimento.
Se o empreendedor está convicto que precisa do investimento e tem em mente quais são os objetivos com esse recurso em caixa, é necessário colocar a casa em ordem. Formalizando os acordos que a empresa possui, entre sócios, investidores e credores. Com a casa arrumada é importante avaliar a startup no valor mais justo e condizente com o praticado no mercado. Para ajudar nisso, o empreendedor pode contratar um avaliador terceiro, isento e profissional, para fazer a avaliação da empresa, pois assim tem-se uma análise imparcial e assinada por um especialista, que tem muito peso na hora de conversar com investidores.
Com o valor da startup estipulado, o empreendedor apresenta sua empresa para o investidor, elaborando um Pitch Deck estruturado. Nessa apresentação precisa estar claro a dor e solução do negócio, a história da startup e seu potencial de crescimento, o investimento pretendido, e qual vai ser o uso desse investimento nos próximos 12 meses.
Antes de entrar em contato com os potenciais investidores, identifique qual é o estágio de amadurecimento da sua empresa, pois cada estágio possui um tipo de investidor adequado. Definido isso, o empreendedor deve abordar o maior número possível de investidores.
Como saber se é hora de abrir o capital da empresa para investidores-anjo?
Para saber se está no momento correto de buscar essa modalidade de investimento é importante que o empreendedor observe o estágio de maturidade de sua startup, destacando que as informações abaixo são apenas alguns dos indicadores relevantes: fature até R$ 1 milhão por ano; busque aporte de R$ 100 mil a R$ 800 mil; apresente algum tipo de inovação – seja no produto, serviço, processo de fabricação, modelo de negócio ou forma de comercialização; tenha alto potencial de crescimento e sejam “escaláveis” – capacidade para crescer sem aumentar muito os custos de operação; foque em um mercado-alvo expressivo – que movimente mais de R$ 500 milhões por ano; possua um modelo de negócio que não pode ser copiado facilmente por concorrentes.