A Maçã Fuji da região de São Joaquim, em Santa Catarina, conquistou o selo de Indicação Geográfica (IG), na espécie Denominação de Origem (DO), nesta terça-feira, 3 de agosto, pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A qualidade da Maçã Fuji produzida na região é reconhecida devido às características exclusivas e essencialmente ligadas ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos, e o processo de produção desenvolvido há mais de cinco décadas.
Esse reconhecimento é resultado de uma parceria entre o Sebrae/SC, a Associação de Maçã e Pêra de Santa Catarina (AMAP), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), Secretaria Estadual de Agricultura da Pesca e do Desenvolvimento Rural e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
A conquista de Indicação Geográfica destaca que a Maçã Fuji produzida na região de São Joaquim é diferenciada das outras produzidas no país, valorizando sua história e características únicas. Por meio do selo, a Maçã Fuji da região de São Joaquim tem mais potencial de agregar valor econômico e conquistar novos mercados. O registro da IG é dado aos produtos que apresentam uma qualidade única e características do seu local de origem. É o caso, por exemplo do “Vinho do Porto”, de Portugal e da “Champagne”, da região de Champagne, na França.
“Essa é a sexta Indicação Geográfica (IG) de Santa Catarina, e conquistas como essas são de atuação prioritária do Sebrae/SC, que em parceria com outras entidades busca a valorização tanto de territórios quanto dos seus produtos únicos e tradicionais, que mobilizam não só a cadeia produtiva em si, mas podem gerar desenvolvimento e integração a outros elos da cadeia. A IG reconhece e chancela o trabalho do agricultor familiar catarinense, e sedimenta os esforços desse empreendedor na busca por uma produção de qualidade, que gera empregos e renda. O projeto de construção da IG da maçã Fuji faz parte de uma estratégia maior de Desenvolvimento Territorial liderada pelo Sebrae/SC. Foram utilizados princípios de metodologia francesa denominada “Cesta de Bens e Serviços Territoriais” - trazida ao Brasil pelo Laboratório de Estudos da Multifuncionalidade Agrícola e do Território (LEMATE) da UFSC, que busca revelar, organizar e promover de forma conjunta os principais recursos e ativos de uma região, especialmente os específicos, ou seja, àqueles que não podem ser reproduzidos em outro local com os mesmos atributos qualitativos impressos pelo território. Com essa metodologia, a maçã Fuji foi um dos três produtos âncora selecionados para promover o desenvolvimento da Serra Catarina de forma sustentável e inclusiva, juntamente com os vinhos de altitude de SC e com o Mel de Melato da Bracatinga do Planalto Sul Brasileiro”, afirma o gerente de desenvolvimento regional do Sebrae/SC, Paulo Cesar Sabatinni Rocha.
A maçã Fuji foi introduzida na região de São Joaquim na década de 1970 a partir de uma política pública de estímulo à produção de frutas de clima temperado. Trazida do Japão e cultivada nas colônias japonesas implantadas na região na mesma época, a maçã Fuji tornou-se um produto econômico de importância central para a economia local. O reconhecimento da qualidade da Maçã Fuji da Região de São Joaquim tornou este nome reconhecido nacionalmente, a ponto de garantir ao município o título de Capital Brasileira da Maçã.
O produto apresenta alto grau de adaptabilidade às condições da Região de São Joaquim, resultando em características diferenciadas na qualidade dos frutos quando comparada às demais regiões produtoras. Atualmente, a região possui não apenas o maior número de produtores, mas também a maior produtividade do Brasil, produzindo 66% do total de produção nacional desse cultivar.
A altitude de 1.100m determinada para a produção da fruta permite uma ocorrência de pelo menos 700 horas de temperaturas abaixo de 7,2°C no inverno, proporcionando uma boa indução natural da brotação e do florescimento, necessário para o desenvolvimento fisiológico do cultivar. O clima tipicamente mais frio da região de São Joaquim resulta em ciclo vegetativo mais longo com floração antecipada e colheita mais tardia, favorecendo um processo de maturação mais prolongado, que possibilita a colheita de frutos com maior tamanho e peso. As temperaturas mais baixas nas semanas que antecedem a colheita também favorecem a ocorrência do chamado pingo de mel, distúrbio fisiológico que deixa o fruto mais doce.
A ocorrência de noites frias no período de quatro a seis semanas que antecede a colheita corresponde à ocorrência de uma amplitude térmica suficiente para a síntese de antocianina, favorecendo a pigmentação com uma coloração vermelha mais intensa da casca, característica das frutas da região, que são mais crocantes e suculentas que as produzidas em outras localidades.
“Esse reconhecimento nos alegra imensamente, e demonstra mais uma vez a excelência do Estado de Santa Catarina no desenvolvimento e aprimoramento de produtos de modo geral, em especial àqueles relacionados ao agronegócio. A região de São Joaquim foi reconhecida como uma área de produção delimitada com qualidades distintas e definidas pelo território, a partir de estudos da relação entre o homem, o produto e o território, caracterizando os fatores históricos, culturais e naturais para o produto. Isso faz com que Santa Catarina seja projetada tanto nacional, quanto internacionalmente, como um território de excelência de produção agropecuária. Os catarinenses devem se orgulhar com esse selo e tantos outros que virão, porque é um estado caracterizado por pessoas empreendedoras e trabalhadoras, que devem ter seus trabalhos reconhecidos. Além de agregação de valor ao produto, traz benefícios como o incremento do turismo das regiões que recebem o selo de Indicação Geográfica”, afirma Mara Rúbia Romeu Pinto Muller, da Secretaria Estadual de Agricultura da Pesca e do Desenvolvimento Rural, que atuou na expedição de delimitação da área em Santa Catarina.
O selo do INPI reconhece a Maçã Fuji produzida em área delimitada da Região de São Joaquim, que possui um total de 4.928 km² e cerca de 176.854 toneladas produzidas, engloba os municípios de São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Urupema, Urubici e Painel. São 6.719 hectares, aproximadamente 2.104 unidades produtoras, 90% das quais são pequenas propriedades; duas são associações, seis são cooperativas e 12 são empresas.
Segundo o diretor administrativo da Associação de Maçã e Pêra de Santa Catarina (AMAP), Diego Nesi, é uma alegria muito grande essa conquista, que já vem sendo trabalhada pelos parceiros há cerca de quatro anos. “É um avanço muito grande para a nossa região, irá agregar valor ao produto e ao turismo, então é uma conquista muito grande para todos nós. A qualidade da Maçã Fuji já era reconhecida no nosso município, e o selo veio para coroar e trazer esse reconhecimento nacional e internacional, como uma das melhores maçãs do mundo, certificando que não existe outro produto igual ao nosso. Os produtores se sentem orgulhosos de estarem produzindo aqui”, completa.
O produtor orgânico de maçã, pera e caqui da Fazenda Ecológica Terra do Sol, Velocino Salvador Bolzani Neto, valoriza a conquista e a união de entidades em busca da conquista pelo selo de Indicação Geográfica. “É uma conquista que há muito tempo o setor sonhava, com todos esses parceiros o trabalho fluiu. O selo abre um horizonte de oportunidade para as agroindústrias e produtores, com a comercialização da Maçã Fuji na região, teremos mais geração de renda, emprego e oportunidades. Também teremos a oportunidade de valorizar o nosso território, principalmente nesse momento de pandemia, onde o brasileiro se volta mais para o turismo interno. Com certeza essa conquista vai contribuir para o desenvolvimento socioeconômico e turístico da região de São Joaquim, com destaque do nosso produto e para que as pessoas conheçam o que temos de importante”, afirma Velocino, que também é sócio da AMAP e sócio da Econeve, cooperativa ecológica de agricultores de São Joaquim.
Além da conquista de Indicação Geográfica para a Maçã Fuji da Região de São Joaquim, o estado está representado por Indicações Geográficas de produtos como o Mel de Melato da Bracatinga do Planalto Sul Brasileiro, os Vinhos de Altitude de Santa Catarina, os Vinhos e Espumantes de Uva Goethe, dos Vales da Uva Goethe, a Banana da Região de Corupá e o Queijo Artesanal Serrano, no Campos de Cima da Serra. Atualmente, o Sebrae/SC e outros parceiros lideram o processo de conquista da IG para as Ostras de Floripa, Camarão Laguna, Cachaça e Banana de Luiz Alves, Linguiça Blumenau e Alho Roxo do Planalto Catarinense.
Foto: (Crédito: Antonio Carlos Mafalda).
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