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Tue May 19 15:58:49 BRT 2020
Organização | GESTÃO DO PROCESSO PRODUTIVO
A importância da integração dos atores da cadeia produtiva de suínos

Qualidade dos produtos finais depende da relação entre os agentes envolvidos nas etapas de produção, indústria e processamento. Conheça esses agentes.

· Atualizado em 19/05/2020
Integração

Uma cadeia produtiva é formada por um conjunto de atividades econômicas relacionadas, desde a elaboração de um produto até o seu consumo. O ciclo começa com as matérias-primas, passa pelo uso de máquinas e equipamentos, pela incorporação de produtos intermediários e chega ao produto final, que é distribuído para comercialização.

Quanto maior a integração entre os agentes envolvidos nas diferentes etapas de trabalho, melhor o resultado e a qualidade do produto final (carne in natura e embutidos).

A suinocultura é uma atividade agroindustrial que considera três partes em sua cadeia de negócios: produção, transferência e consumo. Portanto, sob o ponto de vista da suinocultura, a cadeia produtiva pode ser assim resumida:

  • criação dos suínos (granjas);
  • transferência;
  • atividades de corte, armazenamento e transporte;
  • atividades de venda de carne in natura e de embutidos;
  • consumo.

De forma geral, os principais agentes da cadeia produtiva da suinocultura são:

  • indústria de ração (estimada em 710 mil toneladas/ano);
  • produção de milho (3,34 milhões de toneladas/ ano);
  • produção de soja (1,56 milhões de toneladas/ano);
  • indústria de saúde animal (movimento anual de US$ 3,8 milhões);
  • agentes encarregados do material genético (oito granjas reprodutoras e três centrais de inseminação);
  • fabricantes de equipamentos;
  • consultorias e assistência técnica;
  • todos os demais serviços decorrentes desses agentes.

Destaca-se, ainda, o papel das associações de criadores, como a  Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS) e a Associação Paulista de Criadores de Suínos, que desempenham ações para estimular a produção, o consumo e a comercialização da carne suína.

Os agentes da cadeia produtiva da suinocultura podem ser divididos em três grupos: produção primária, produtos e serviços, e processamento.

Produção Primária

Este grupo é constituído, principalmente, por:

  • Suinocultores de ciclo completo, ou seja, cuja produção abrange todas as fases de produção e tem como produto final o suíno terminado;
  • Minifundiários (donos de pequenas propriedades). A maioria está vinculada às indústrias de processamento. Esses produtores geralmente trabalham com um número médio inferior a oito matrizes e mão-de-obra familiar.

A maioria produz milho – principal componente da ração dada aos suínos – na propriedade. Os que possuem vínculo com indústrias recebem delas o concentrado para ração (ou, eventualmente, a ração completa), vacinas e medicamentos que serão descontados do preço pago aos produtores na época da entrega do animal terminado.

O contrato entre produtor e indústria é bastante simples e, geralmente, não são estabelecidos compromissos prévios entre as partes em termos de preços. A vantagem do produtor ao vincular-se à indústria é a segurança e a comodidade, pois garante mercado e assistência técnica para sua produção.

Além desses dois principais agentes, existem também as Unidades Produtoras de Leitões (UPLs). Trata-se de um novo modelo que vem sendo incentivado tanto por indústrias como por algumas cooperativas. São granjas altamente especializadas que utilizam matrizes e reprodutores híbridos. Elas são vinculadas, por contrato, à indústria de processamento. Em quase todos os casos, o controle e o gerenciamento das vendas dos leitões aos recriadores/terminadores são feitos pelas indústrias.

Os contratos firmados garantem às UPLs o recebimento de material genético de qualidade, de parte da alimentação, de produtos veterinários e de orientação técnica, e aos recriadores/ terminadores também a compra dos animais terminados. Os preços são estabelecidos de acordo com o valor de de mercado do dia da transação.

Produtos e Serviços

Neste grupo, destacam-se duas áreas: o setor de indústria de rações e o setor de melhoramento genético.

 A indústria de rações é peça-chave da cadeia produtiva da suinocultura, pois esse produto representa cerca de 80% dos custos totais de produção dos animais.

 No caso da produção de material genético, podem ser definidos dois níveis: o melhoramento genético propriamente dito e a multiplicação desse material para obtenção de reprodutores em nível comercial. As empresas que trabalham exclusivamente no segundo grupo (granjas multiplicadoras) atuam livremente no mercado, como vendedores diretos de matrizes e reprodutores para os suinocultores.

Esse grupo é formado, em sua maioria, por empresas nacionais. As empresas de melhoramento genético formam um grupo altamente oligopolizado (ou seja, pequeno e forte, impedindo que outras empresas conquistem espaço no mercado), em função dos altos custos envolvidos em pesquisa e desenvolvimento. Essas empresas se dedicam à obtenção de híbridos, ou seja, um avanço tecnológico que permite proteção e retornos mais rápidos.

 Também existem empresas formadas via joint-ventures (uma associação de empresas com fins lucrativos, que explora determinados negócios, sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica) com firmas estrangeiras. Isso permite acesso amplo e contínuo à base genética, às técnicas de manejo e ao treinamento de pessoal, com redução do tempo e do capital – oque favorece o avanço técnico.

As transações realizadas por essas empresas são dos seguintes tipos:

  • Venda direta de reprodutores no mercado – que constitui a maior parte das operações;
  • Multiplicadores de rebanho fechado – que consiste em vendas, mediante contrato, de "avós" para serem reproduzidas pelas firmas compradoras;
  • Núcleos filiais – similares ao anterior, mas com transferência de "bisavós".

 Os dois últimos tipos são realizados com frigoríficos que participam do sistema de produção, por meio de contratos delongo prazo (mais de quatro anos) que incluem um pacote técnico completo fornecido pelo vendedor (instalações, sanidade, nutrição etc). Nesse tipo de operação, os agentes principais são a empresa de melhoramento genético, o comprador e o frigorífico.

Processamento

Embora não existam informações exatas para definir com detalhes este grupo, os dados permitem estimar que, em termos de concentração, as quatro maiores empresas do Brasil detêm cerca de 30% do abate nacional, e as dez maiores, 40%.

Em nível regional, o grau de concentração das indústrias compradoras no mercado pode ser considerado muito alto, caracterizando um oligopsônio (regime de mercado em que existe apenas um pequeno grupo de compradores, o que lhes dá condições privilegiadas de negociação, incluindo a definição do preço de venda de seus fornecedores).

Por outro lado, a qualidade da matéria-prima determina a qualidade do produto final (como a carne in natura pronta para o consumo os embutidos, por exemplo).Portanto, a indústria final depende muito dos fornecedores e é obrigada a estar atenta às características técnicas e à qualidade do processo de produção.

A importância dos contratos

Em relação às negociações de preços, os participantes da cadeia produtiva confirmam que, apesar de não serem formalizados, existem acordos de preços e divisão de áreas de influência no mercado (embora essas ações sejam ilegais, pois diminuem a igualdade de condições para competir no setor).

O estabelecimento de contratos diminui os riscos de todos os agentes envolvidos na cadeia produtiva, garantindo:

  • oferta de animais para a utilização, em ótima escala;
  • equipamentos altamente especializados na etapa de processamento;
  • manutenção de um alto padrão de qualidade dos animais;
  • recebimento (por parte dos produtores) dos preços pré-negociados nos contratos;
  • recebimento (por parte dos processadores) da matéria-prima em quantidade e qualidade suficientes.

Para o produtor, os contratos são favoráveis porque:

  • facilitam o acesso ao capital de giro, necessário para a manutenção da atividade e para a diminuição dos riscos do negócio, pois o preço recebido pelos produtores “sob contrato” é mais estável que o recebido pelos produtores independentes;
  • dão acesso à assistência técnica.

Vale ressaltar que a dependência entre os agentes de toda a cadeia produtiva é muito grande. Por exemplo: se há um aumento no preço do milho, integrante da alimentação dos suínos, isso se reflete no preço do produto final que chega ao consumidor.


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