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Mon Sep 04 16:20:43 BRT 2023
Empreendedorismo | EMPREENDEDOR
Agulhas que tramam oportunidades

Uma história de empreendedorismo feminino no segmento de artesanato

· Atualizado em 04/09/2023
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A técnica de crochê, tal como conhecemos hoje, tem origem no século XVI, não se sabe ao certo se na China ou no Oriente Médio. O crochê é desenvolvido com o auxílio de agulhas específicas terminadas em gancho, que produzem um trançado semelhante a trama de uma renda. E é do tipo de agulha usada que vem o nome da técnica. A palavra crochê é originada da palavra “croc”, que em francês, quer dizer gancho.

As peças em crochê podem ser confeccionadas com qualquer tipo de fio, a depender do tipo de produto a ser executado, além disso, a técnica pode ser aplicada na criação de produtos para o segmento de moda, de decoração e de uma infinidade de objetos artesanais. Inicialmente o crochê foi visto como uma alternativa mais barata às rendas feitas à mão.

No século XIX, graças à iniciativa de Éléonore Riego de la Branchardière, filha de pai francês e mãe irlandesa, mas nascida na Inglaterra, a técnica de crochê foi amplamente difundida na Europa. Desde criança ela demonstrou interesse pelas técnicas artesanais de produção com agulhas como renda, tricô, bordado e crochê, o que a levou a publicar uma série de livros difundido a técnica com padrões que poderiam ser copiados.  

Ao longo da história, o crochê também foi protagonista num período de grande decadência e precariedade vivido na Irlanda, ajudando a salvar muitas famílias da fome. Devido a uma praga na lavoura de batatas, no século XIX, a Irlanda enfrentou um período definido como a Grande Fome. A técnica do crochê foi disseminada pelo país, através de escolas criadas para ensinar a técnica e professores capacitados como uma alternativa para garantir a sobrevivência da população. O domínio da técnica de crochê por grande parte da população, foi determinante para a economia da Irlanda neste período de crise.

Neste contexto, o crochê irlandês se destacou, ganhando fama devido às suas peças serem mais elaboradas, delicadas e detalhadas, caindo no gosto da nobreza e do clero por toda a Europa o que garantiu a sobrevivência de muitas famílias  irlandesas.

A técnica continua sendo passada de geração em geração, pois tem uma dimensão simbólica, afetiva e de construção de elos de relacionamento social entre pessoas que se reúnem em torno do crochê. Foi assim que começou a história com o crochê da designer e empreendedora Dani Dalledone. Quando criança, na companhia da avó, começou a prestar atenção nas peças que ela produzia. Esta observação e convívio despertou em Dani o interesse pelo aprendizado do crochê. 

Formada em design gráfico, decidiu conectar as habilidades desenvolvidas desde criança ao lado da avó com o conhecimento técnico adquirido na faculdade, que lhe trouxe um diferencial para desenvolver desenhos técnicos, inovar, criar, descobrir nichos de mercado, fazendo a diferença no seu processo como empreendedora. 

Em 2015 começou a sua experiência como empreendedora a partir da identificação de uma oportunidade de atuação em um nicho de mercado relacionado ao crochê. Buscando novos produtos, ela encontrou os amigurumis, bonecos inanimados relacionados à cultura japonesa e confeccionados em crochê ou tricô. De acordo com a tradição japonesa os amigurumis possuem uma “alma”, e por isso se presta como um companheiro para o seu dono, proporcionando proteção e consolo. Para as crianças eles podem significar amizade, cumplicidade e companhia, e contribuem para o seu desenvolvimento afetivo e cognitivo.

No período de planejamento da empresa, Dani percebeu que não haviam cursos e nem livros ou revistas em português com receitas de como fazer os amigurumis. Assim teve a iniciativa de produzir livros com receitas para ensinar como produzir os bonecos, oferecer cursos de crochê, além da venda de produtos confeccionados por ela. Iniciou sua trajetória como empreendedora com a abertura de um ateliê em Curitiba voltado ao mercado de ensino e venda de peças de crochê.

A empreendedora já tinha um foco de mercado definido. Os amigurumis no momento da fundação da empresa eram ainda novidade no Brasil e poucos artesãos confeccionavam os bonecos. Esta foi uma vantagem competitiva que ajudou a alavancar o ateliê. Os decoradores compravam as peças, que eram usadas na ambientação de festas, assim como, na decoração de quartos infantis. Outro público em potencial que Dani identificou eram as mulheres grávidas que encomendavam os bonecos, tanto para serem usados como parte da decoração do tradicional chá de bebê, como no quartinho do bebê. 

O investimento inicial no negócio, para além da formação e conhecimento adquirido por Dani ao longo dos anos, foi relativamente baixo, pois ela aproveitou os materiais que já tinha para produzir as peças e testar o mercado. Em geral, esta é uma maneira bastante comum de começar um negócio no segmento do artesanato, com baixo investimento financeiro, pois basicamente demanda do artesão habilidade, criatividade e investimento em matéria-prima. Com isto, os empreendimentos no segmento de artesanato podem ser vistos como vantajosos em relação a outros tipos de negócio nesta fase inicial que, além de ter um custo baixo de implantação, possibilitam testar produtos de maneira mais rápida do que qualquer outro segmento, assim como, corrigir eventuais acertos no produto ou até mudar completamente o projeto caso não tenha uma aceitação positiva por parte dos clientes. 

Dani Dalledone faz parte do percentual de mulheres empreendedoras que além de gerar renda a partir de uma iniciativa empreendedora, tem como foco de negócio perpetuar uma técnica ancestral e que pode estimular o empreendedorismo de outras mulheres, capacitadas na produção de peças em crochê.

Uma das características que impulsiona o crescimento do empreendedorismo feminino no segmento de artesanato é a facilidade de compatibilizar uma carreira com a dedicação à família. É importante para quem deseja empreender no segmento de artesanato saber a diferença entre trabalho manual ou manualidade e artesanato. O artesanato tem valor de mercado diferenciado, trata-se de um trabalho criativo, que não resulta de cópia de um produto existente, portanto é único e não é feito em série. O produto artesanal tem identidade própria e referência cultural.

De acordo com um levantamento produzido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2022, o percentual de mulheres empreendedoras no Brasil corresponde a 34% do número total de empreendedores no país. Dados do Instituto Rede Mulher Empreendedora estimam que 30 milhões de brasileiras são donas de negócio e, com a pandemia, o número de mulheres que optou por ter o controle de sua carreira cresceu globalmente. No Brasil, segundo dados do Linkedin, o percentual de crescimento de empreendedoras de 2019 para 2020, foi de 41%. 

As dificuldades e barreiras impostas às mulheres no mercado de trabalho e, principalmente, quando são as gestoras de seus próprios negócios, são ainda maiores do que as encontradas pelos homens. Tanto que a ONU instituiu em 2014, o dia 19 de novembro como o dia mundial do empreendedorismo feminino como forma de combater a desigualdade salarial no mundo corporativo. 

As mulheres que pensam em empreender devem estar preparadas para correr riscos, desenvolver e aprimorar continuamente sua capacidade de planejamento e, sobretudo, devem cultivar a persistência diante das adversidades.

Uma das sugestões que pode aumentar a motivação e fortalecer as mulheres empreendedoras é fazer parte de associações ou movimentos que buscam subsidiá-las com informação, conhecimento, troca de experiência e, com isto, consolidar o protagonismo feminino empreendedor. Um exemplo é o caso da Rede Mulher Empreendedora que, além de promover educação de qualidade,  disponibiliza programas de mentoria, promove a conexão com investidores em busca de recursos financeiros para apoiar a constituição e consolidação dos empreendimentos femininos.

Além disso, o Sebrae Delas é um programa de aceleração de negócios para fomentar e desenvolver, tanto práticas empresariais, quanto políticas públicas das mulheres empreendedoras. Como parte do programa, o Sebrae criou, desde 2004, o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, que visa reconhecer histórias inspiradoras de mulheres que lideram negócios. A premiação contempla três categorias: pequenos negócios, produtora rural e microempreendedora individual. Desde sua primeira edição, mais de 80 mil mulheres já se inscreveram. Seja você a próxima mulher a integrar a lista de ganhadoras do prêmio. Trame sua própria rede de sucesso. 

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