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O Capim Dourado é um presente da natureza. Tornou-se conhecido e famoso pela capacidade de reluzir como ouro na sua fase mais madura. Mas, diferente do que se pensa, ele não é um capim. A planta que deu visibilidade aos artesãos quilombolas que habitam a região do Estado do Tocantins, denominada Jalapão, é na verdade uma espécie da família das sempre-vivas.

Saber disso, entretanto, não vai mudar em nada a importância do Capim Dourado. Muito menos vai fazer com que ele seja chamado de outra forma. Porque uma das conquistas do povo daquela região foi conseguir, desde 2011, o registro que garante a Identificação de Procedência (IP). Afinal, foi o reconhecimento da tradição centenária e a evolução da técnica da produção de artesanato que promoveu a identidade imediata entre o Capim Dourado e a região do Jalapão.

Não há mistério no fazer artesanal. O capim deve ser colhido no tempo certo. Quando está maduro, as hastes ficam secas e reluzem mais. E a flor que há na ponta de cada haste se desprende com mais facilidade. É nessa hora que se dá a renovação do plantio.  É a semeadura em seu modelo natural perpetuando a existência da espécie nas veredas do Jalapão.

Depois de colhido, ele é trabalhado pelas mãos hábeis do povo quilombola. A amarração é feita com fibra extraída da palmeira do buriti. O resto é a essência do segredo. O conhecimento de uma arte que se transfere  há centenas de anos, de uma geração para outra, e que tornou-se mais percebida no Brasil e no mundo a partir dos anos 1990.

São inúmeros os produtos gerados a partir da matéria-prima Capim Dourado. Bolsas, brincos, peças de decoração, chapéus e utensílios domésticos. Tudo reluzente como ouro. Tudo com um valor agregado pela dedicação dos artesãos, pela evolução do modo de fazer e pelo efeito causado pela chegada da tecnologia, que permitiu o acesso rápido às redes sociais e às vendas eletrônicas.

Essa fama exigiu providências e cuidados. Os artesãos tiveram que se proteger para que a atração comercial pelo capim não provocasse o fim da espécie. Órgãos de proteção ambiental estabeleceram regras. Do plantio à colheita. Do uso às permissões para explorar e transportar o capim.

Além disso, a visibilidade do Capim Dourado e da arte que resulta de seu manuseio, também tornou visível a situação de vida dos habitantes dos Quilombos do Jalapão. Três deles, por exemplo, o Mumbuca, o Rio Novo e o Prata, estão entre os que mais se destacam na produção de artesanato.  E, também, foram os primeiros a receber o projeto “Energia para Crescer”, resultado de uma parceria entre o Sebrae e a Energisa, um grupo que atua no setor energético em mais 860 municípios brasileiros levando energia a, aproximadamente, 20 milhões de pessoas.

Identificar com placas bilíngues os principais locais de produção, organizações sociais, serviços e atrações turísticas foi um dos efeitos imediatos do projeto “Crescer com energia”. Mas houve mais. O Sebrae tratou de expandir o conhecimento, capacitar os integrantes das associações de artesãos, orientar sobre detalhes essenciais para quem quer virar empreendedor e viver do seu próprio negócio.

O projeto iniciado em 2021 deve prosseguir até 2023 com investimento previsto de R$ 1,3 milhão. Até o final, a previsão é que novas etapas sejam realizadas, incluindo um programa chamado Força Mulher. Também está previsto um curso de Elaboração de Projetos e apoio a atividades culturais, como a Festa da Colheita do Capim Dourado que acontece sempre em setembro de cada ano.

Entre os muitos resultados já conquistados  com essa parceria, as coleções “Adornos” e “Brilho que vem do Cerrado” deram mais visibilidade ao trabalho das mulheres artesãs dos Quilombos Mumbuca e Prata. 

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