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Thu Jun 01 22:44:00 BRT 2023
Empreendedorismo | ATITUDE EMPREENDEDORA
O nó da beleza, a trama da tradição

O encontro das histórias de pescadores com a riqueza obstinada das artesãs de Bariri transformou uma técnica de produção artesanal em patrimônio imaterial.

· Atualizado em 01/06/2023
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Dorival Caymmi é autor de uma música considerada um clássico do cancioneiro nacional, “O Canoeiro”. Nela, letra e melodia compõem uma espécie de canção cinematográfica. Que permite a quem a escuta imaginar, como se visse um filme, a árdua tarefa do pescador enfrentando a força do sol, no labor cotidiano de quem vive da pesca.  A letra é curta e pouca. Mas é intensa. O canoeiro joga a rede no mar em busca do peixe. Sonha em garantir alimento e presentes para os seus queridos. E agradece a Deus a sorte de ter fartura na rede.  Os acordes do violão, ora lentos, ora acelerados, variam entre o que bem poderia ser uma cantiga de roda ou uma oração.

O ofício de pescador é nobre. Seja no mar ou no rio, requer de quem o exerce o controle da técnica de um bom instrumento que lhe ajude a pescar. Neste caso, a rede. Nas regiões onde pescar é mais que uma arte, é a própria condição da sobrevivência, todo bom pescador é também obrigado a conhecer os segredos da artesania, para tecer sua própria rede.

Agulha de madeira, linha de nylon e habilidade nas mãos para dar firmeza aos nós da trama. Eis a ciência artesanal da construção. É da natureza de quem tece transferir para o que faz um pedaço de sua alma. Pois, é justamente aqui, neste ponto, que a força do acaso promove o encontro das histórias de pescadores com a riqueza obstinada das artesãs de Bariri.

No final do Século XIX, início do Século XX, um pequeno povoado no interior de São Paulo, às margens do Rio Tietê, começava a tomar forma de cidade. Uma cidade à beira de um rio tinha selada com a força das águas a sua identidade. Os povos originários da etnia Caingangue sabiamente a batizaram de Bariri, nome que, numa tradução livre do idioma Tupi-Guarani para o português, significa “rio de água barulhenta”. E o nome faz todo sentido, porque, naquele ponto do Rio Tietê, havia duas corredeiras, uma pequena e outra maior, onde o curso do rio se tornava mais barulhento mesmo.

Hoje, a construção de duas barragens postas ali para gerar energia e iluminar as cidades fez com que as corredeiras sumissem e o rio ficasse mais silencioso. Mas é dessa época, quando o rio era limpo e cheio de peixes, e a pesca era uma atividade importante, que a tradição de tecer redes se transfere. Passa das mãos calejadas dos pescadores para as mãos femininas de um grupo de artesãs. Os nós que resultavam em redes de pesca agora tinham outra finalidade: tornar mais lindas e dar personalidade às peças utilitárias, criadas com tecidos rústicos, usadas em tarefas caseiras.

É assim que nasce a tradição do amarrio, técnica de tecelagem artesanal que mistura dois estilos distintos de tecer: o macramê e o abrolhos. Essa tradição, que tem início na transferência de conhecimento da arte de fazer redes, dos pescadores para as suas mulheres, ganhou tanta força no início do século passado que as toalhas, guardanapos e outra peças de decoração, acrescidas do amarrio, viraram uma espécie de identidade do artesanato de Bariri.

Com o passar do tempo e com o avanço do processo industrial, a tradição manual de fazer o amarrio foi se perdendo. As mulheres reduziram a produção e, por muito pouco, a atividade não desapareceu de vez. Recentemente, um grupo determinado de artesãs decidiu que era preciso fazer algo para preservar a memória daquele traço cultural da cidade.

Reuniram as mulheres que conheciam e dominavam a técnica. Formaram grupos que ensinaram quem tivesse interesse em aprender a fazer. E, em paralelo, obtiveram apoio da câmara de vereadores para aprovar um projeto que transformava a técnica de produção do amarrio em patrimônio imaterial da cidade.

A um só tempo, essas mulheres deram um exemplo de empreendedorismo. Transformaram uma atividade que parecia condenada ao esquecimento em um modo de produção capaz de gerar renda e dar visibilidade ao trabalho coletivo. Recorreram a um eficaz plano de comunicação que incluiu a ocupação estratégica dos espaços criados nas redes sociais, nos sites de informação e no envolvimento da comunidade escolar.

As artesãs de Bariri são exemplos de determinação e persistência. Juntas, elas encontraram uma forma de movimentar a economia local, resgatar e manter viva a memória de uma tradição cultural, atuar em conjunto na produção artesanal de um símbolo da cidade e ainda gerar renda e melhorar a vida de muitas famílias.  Algo que o SEBRAE identifica como fatores imprescindíveis para alcançar o sucesso de toda iniciativa empreendedora.

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