Entenda o que é fluxo de caixa e saiba calcular como se preparar financeiramente para novas iniciativas, sem afetar a estabilidade do negócio.
Viviane Danin
· Atualizado em 29/11/2022A maior parte dos negócios enfrenta dificuldades financeiras e esta é a maior causa de fechamento de empresas.
Por isso é fundamental que o empreendedor saiba analisar os valores que estão entrando e os que estão saindo de seu caixa para gerenciar o dinheiro da sua empresa.
Assim ele vai conseguir fazer sua empresa crescer de forma sustentável e que todos os que trabalhem no negócio ganhem – empreendedores e colaboradores.
Na prática muitos empreendedores agem de forma impulsiva quando pensam em investir dinheiro e contratar pessoas acima do que podem. Desejam crescer com a mentalidade de “Eu sou empreendedor, eu quero fazer muita coisa, eu quero conquistar o mundo”.
Claro que pensamento positivo é bom, mas há circunstâncias de mercado e imprevistos que acontecem fora do planejado. Há iniciativas que podem não dar certo e contratações prematuras, feitas antes dos negócios se tornarem mais eficientes.
Todo empreendedor precisa se preocupar com o capital de giro, que é a quantidade de dinheiro que um negócio precisa ter em caixa para conseguir se auto financiar durante o período de tempo em que o negócio não ganha dinheiro.
Na prática, este cálculo não parece muito fácil, então vamos pensar de um jeito didático para você entender e conseguir aplicar isso na sua própria empresa.
Se você tem um negócio, principalmente se envolve matéria-prima e estoque, você vai precisar comprar mercadoria. Vamos dizer que seja uma padaria. Então você vai precisar comprar trigo para fazer o pão.
Se você tem uma marca de roupas que fabrica as roupas, você vai comprar o tecido de um fornecedor.
Vamos então fazer uma simulação. Toda mercadoria leva um tempo até se tornar um produto e ser vendido. Esse tempo é o prazo médio de rotação de estoque.
Ao comprar de um fornecedor, muitas vezes a empresa tem um prazo até pagar o seu fornecedor. A isso a gente dá um nome também, que é o prazo médio de pagamento de compras.
O prazo médio de pagamento de compras vai desde o momento em que você recebe a mercadoria até o dinheiro sair da sua conta para você pagar o fornecedor.
Aumentar esse tempo ao máximo vai influenciar diretamente a quantidade de capital de giro que você precisa ter. Quanto maior o tempo para pagar a mercadoria que comprou, menor vai ser a necessidade de capital de giro.
Agora vamos dizer que o seu prazo médio de rotação de estoque é de dois meses. Ou seja, foram dois meses do momento em que comprou até o momento em que vendeu.
E também vai levar um tempo desde o momento em que você vendeu a mercadoria para um cliente até o dinheiro cair na conta.
Dependendo de qual seja o seu modelo de negócios, vamos considerar este exemplo em que o prazo médio do recebimento de vendas é de dois meses. Você vendeu a mercadoria no mês 2 e o dinheiro só foi cair na sua conta no mês 4. Olha o que acontece.
Depois de um mês você teve que pagar de fato o seu fornecedor, então o dinheiro saiu da sua conta durante três meses e você não recebeu nada. Deste modo, você precisa conseguir manter o seu negócio rodando durante esses três meses.
Aqui entra a necessidade de financiamento. Esse período, onde há necessidade de financiamento, a gente chama de ciclo de caixa.
É no ciclo de caixa que você vai calcular o capital de giro.
Para calcular, você vai considerar esses três meses e fazer a conta de quanto gasta nesse tempo em folha de funcionários, em energia, em aluguel. Vai somar todo o dinheiro que você gasta nesse tempo. É o dinheiro que você deve ter no caixa da sua empresa, porque durante esse tempo você só vai consumir dinheiro.
A maior parte das empresas não tem o suficiente em caixa para conseguir arcar com seu ciclo de caixa.
Para conseguir suprir a necessidade de financiamento suprida, o fazem? Pegam um empréstimo.
A maior parte das empresas não tem caixa. Elas ganham um pouquinho de dinheiro, consomem com o caixa e ficam sem dinheiro nenhum para arcar com seu ciclo de caixa.
E aí precisam se endividar. Você pode se endividar, mas é mais saudável fazer outras duas coisas.
A primeira é deixar dinheiro em caixa do capital dos sócios. Ou seja, os sócios da empresa capitalizam a empresa. Ou, em segundo lugar, você pode na verdade fazer com que o seu ciclo de caixa financie o seu capital de giro. Que seja financiado pelo estoque que os fornecedores entregam a você.
É o caso de um grande fabricante de cervejas, que consegue fazer isso na prática. Recebe toda a matéria-prima, vende os produtos, recebe o dinheiro da venda desses produtos e só depois disso ela paga para o fornecedor o que ela comprou lá atrás.
Neste caso, o capital de giro está sendo pago pela espera dos fornecedores, que estão financiando o capital de giro deste fabricante de cervejas.
Quanto maior o prazo médio do pagamento de compras, melhor para você. Quanto menor o prazo médio do recebimento de vendas melhor para você. Quanto menor o prazo médio de rotação de estoque, melhor para você.
Quanto dinheiro ter em caixa?
Como fazer a conta de quanto dinheiro em caixa você deveria ter? Normalmente uma empresa saudável tem algo que dure em torno de 6 a 12 meses.
Além de seus custos de operação considere também o dinheiro que você vai investir em novos projetos.
Exemplo: vamos dizer que as suas operações todo mês custam R$ 20 mil. Digamos que todo mês você tem que pagar aluguel, conta de luz, folha de funcionários e tudo isso vai custar R$ 20 mil.
Se você precisa manter em caixa o equivalente a seis meses de operações, então 6 vezes R$ 20 mil vão ser R$ 120 mil.
A sua proteção
Esse vai ser o dinheiro que vai proteger a sua empresa. Como assim, proteger? Pode acontecer alguma coisa circunstancial. Alguma crise, algo que muda as demandas de mercado e você deixa de ganhar dinheiro por um tempo.
Por isso você precisa ter uma reserva e garantir que a sua empresa não vai falir. Um fôlego para que durante esse tempo você consiga se manter vivo, porque você não quer fechar o seu negócio.
É importante ter pelo menos seis meses de seus custos operacionais em caixa. É uma reserva de contingência para caso alguma coisa dê errado. O seu capital de giro vai estar aqui dentro.
Outro exemplo: vamos dizer que você está no negócio digital e tem portanto uma operação com editores de vídeo, ilustradores, animadores e designers, uma equipe que faz os vídeos do YouTube.
E agora, adicionalmente você deseja fazer um blog. É um novo projeto e você vai orçar o quanto investir na divulgação desse blog, para ter uma pessoa capaz de conseguir fazer o seu blog “ranquear” bem nas páginas de busca.
Então você vai calcular que essa pessoa vai custar em torno de R$ 4 mil por mês. Antes disso, porém, você planejou fazer um investimento inicial nesse blog de R$ 20 mil reais, para dar a partida, e essa pessoa vai fazer um trabalho a partir do sexto mês do ano.
Sendo assim, do sexto mês do ano até o final do ano são seis meses, ou seja R$ 24 mil. Somando os R$ 20 mil de investimento são R$ 44 mil e aí você tem já orçado o quanto vai precisar ter ao começar o ano, sempre mantendo em caixa os R$ 120 mil reais.
Somando os seis meses do seu custo operacional de R$ 20 mil aos R$ 44 mil do projeto de criação de um blog, estamos falando de R$ 120 mil mais R$ 44 mil, ou seja, R$ 164 mil.
Neste momento, o empreendedor “normal” vai dizer que nunca conseguiria ter tanto dinheiro aplicado para um projeto como este do exemplo.
Mas não é o caso de ficar desencorajado a iniciar um projeto. Muitas empresas hoje saudáveis começaram com pouco.
Se você tem vários sonhos e projetos grandiosos a fazer, só não precisa já arriscar tudo o que tem para crescer rápido. Faça muito bem feito com o pouco que já tem e siga acumulando, guardando dinheiro para crescer de forma sustentável, porque vai chegar o momento em que você vai ter em caixa mais dinheiro do que o exemplo daqui.
E aí você vai finalmente poder falar: “– Que legal, além do pró-labore que eu já retiro como salário, eu posso também me distribuir dividendos”.
No caso de novos projetos, você precisa entender uma coisa chamada ROI, que significa retorno sobre o investimento (Return On Investment).
Vamos pegar um exemplo na prática: você está avaliando a viabilidade de comprar uma máquina de estampas. Você tem sua marca de roupas e está analisando se faz sentido aumentar a sua produção de camisas.
Para cada camisa que você vende estampada por esta máquina que está cogitando comprar você terá um lucro de R$ 20.
E essa máquina tem uma capacidade de conseguir em um ano estampar mil camisas. Se esta máquina vai custar para você R$ 20 mil vamos fazer uma conta então.
Se a máquina custa R$ 20 mil, você quer saber quanto tempo vai levar para ter o seu dinheiro de volta e qual vai ser o retorno anual que este investimento vai dar.
Para você comprar uma máquina que vai conseguir fazer mil estampas por ano para você e custa R$ 20 mil, cada uma dessas estampas com R$ 20 reais de lucro, como é a conta?
Muito simples. Você vai pegar o quanto custou a máquina e dividir pela quantidade de lucro que você tem por camisa ou por estampa que você vende R$ 20 mil divididos por R$ 20 é igual a R$ 10 mil. Você teria que vender 10 mil camisas.
Quanto tempo vai levar para você conseguir recuperar o seu investimento? Se esta máquina tem a capacidade de estampar mil camisas por ano, vai levar 10 anos para conseguir recuperar o investimento.
Quer dizer que a gente deve estar falando em uma taxa de talvez então 8% ao ano, ou até às vezes menos do que 7,5% ao ano. E aí você começa a pensar: é menos do que eu conseguiria se fizesse um investimento em outra coisa.
Não é bom investimento.
Mas vamos supor que o seu retorno sobre investimento não aconteça em 10 anos, mas aconteça em 5 anos. Neste caso você estaria falando de uma recuperação em torno de 18% ou 20% do seu valor investido em um único ano.
Em um ano depois disso e no ano seguinte. Já começa a ficar muito mais atraente. O ganho de 20% no ano é maior do que estaria ganhando por exemplo com a taxa SELIC, a 13,75%. Faz sentido comprar um equipamento que vai me pagar isso durante esse período de tempo.
E depois que você começar a ter excedente de caixa precisa tomar muito cuidado em manter só o equivalente a seis meses de operação.
O resto você distribui de dividendos e para cada nova iniciativa considere quanto tempo vai levar até recuperar o seu investimento.
. . .
Conteúdo inspirado pelos ensinamentos apresentados por Breno Perrucho (@brenoperrucho no Instagram) na palestra “Finanças e investimentos para pequenos negócios, no evento Digital Day promovido pelo Sebrae Amazonas em novembro de 2022.
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