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Inovação | APRESENTAÇÃO DE PRODUTO
Renda Pulsante

As várias formas de fluir com as linhas - arte feita com o coração

Logotipo do Sebrae

Por: Guilherme Lamenha, Myrna Pessoa

· Atualizado em 13/09/2024
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Para traçar um roteiro possível para o imaginário alagoano, esse conceito intangível
que perpassa a nossa história e a nossa cultura, podemos tomar como ponto de
partida a arte manual. Barcos rudimentares, redes de pesca, cestos, gamelas, cadeiras e bancos que nascem a partir de raízes e galhos, assim como animais, pessoas e seres fantásticos que brotam da madeira e do barro, mas principalmente as rendas e bordados multicoloridos ajudam a contar a nossa identidade. São caminhos feitos com as mãos que permitem traçar uma ponte entre passado, presente e futuro. Realidade que só é possível graças ao poder universal dos
processos artesanais, que desafiam tempo e espaço. O atual estágio da arte popular em Alagoas é fruto de um percurso histórico, mas também da potência criativa do seu povo, que se reinventa a cada ciclo e está presente em todas as regiões do Estado. São matérias-primas e contextos particulares, baseados nas trajetórias pessoais, nas heranças familiares ou pertencimento étnico e territorialCriações, narrativas e vivências que reafirmam o protagonismo daqueles que emprestam suas existências para perpetuar um repertório plural e único, que coloca Alagoas entre os territórios mais férteis da arte popular no mundo. Potência que encantou Luísa Ramos, casada com o médico e antropólogo alagoano, Arthur Ramos. Juntos, lançaram em 1948 o livro "A renda de bilros e sua aculturação no Brasil", um clássico dos estudos da arte em rendas no país.


É com o mesmo entusiasmo e paixão desse casal pioneiro pelos nossos bordados e
rendas, que o Sebrae e o Projeto Renda-se apresentam a instalação-móbile “Rede
Pulsante” que destaca, em parceria com o Sebrae AL, diversas tipologias de rendas e bordados vivos, produzidos em território Caeté, revelando talentos da produção artesanal alagoana:

Bordado Filé

A arte dos bordados e rendas floresceu no entorno das lagoas Mundaú e
Manguaba, com destaque para o Filé, registrado como Patrimônio Cultural Imaterial
de Alagoas, que recebeu, com apoio do Sebrae, a certificação de Indicação Geográfica, assegurando sua originalidade e o título de arte manual genuinamente
alagoana. Apesar da diversidade de pontos, a técnica pode ser descrita como o preenchimento da rede de base, conhecida como malha, com os pontos bordados que formam os desenhos. A malha, por sua vez, é confeccionada com a mesma
técnica usada na fabricação das redes de pesca da região lagunar.


O Instituto Bordado Filé da Região das Lagoas Mundaú e Manguaba (Inbordal)
é uma organização civil formada por artesãs que tem o objetivo de proteger e
promover o bordado Filé no território em que atua. Para garantir o selo de Indicação Geográfica, elas seguem o Caderno de Instruções do Filé, que padroniza normas de produção com foco no controle da qualidade das peças.


O Grupo Luart começou com Lucineide Barbosa que, aos seis anos, criou sua
primeira peça, a partir das técnicas repassadas por sua avó. Em atividade há 34
anos, o grupo conta atualmente com 22 pessoas, que tecem o bordado filé com um
toque contemporâneo, inspirado na natureza e na cultura popular de Alagoas. Em 2022, o Luart foi reconhecido no Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato.

Ponto Cruz

Um bordado observado desde as antigas civilizações, o Ponto Cruz se popularizou
na Europa, durante a Idade Média. Atualmente, mantém a tradição da criação de
desenhos sobre um tecido, utilizando pontos em forma de “X”, porém, vem ganhando releituras exclusivas e cheias de personalidade. Como em um jogo de paciência, as bordadeiras se utilizam de tecidos como Aida, Etamine, Cânhamo e
Linho, com trama uniforme, que facilita a contagem dos pontos, para tecer as linhas de algodão mercerizado, com agulhas de ponta romba, num movimento ritmado para formar cada quadradinho do tecido. Uma mãe, um prazer e algumas revistas. Assim teve início a história de amor com o ponto cruz, que em 2017, oficializou-se como Bordeliê, envolvendo a mãe Arivânia e a filha Ariane Pita nas produções do bordado. Em 2024, repaginaram a marca e sua atuação. Hoje, a Beliê tem ateliê próprio, na Barra de São Miguel. A marca foi reconhecida com o Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato e já participou Renda-se, exaltando a beleza dessa técnica cheia de personalidade.

Crochê

As culturas mais antigas já utilizam uma agulha e um fio contínuo para criar peças
semelhantes a uma trama de renda. Mas foi na Europa, no século XVI, que o crochê se popularizou. A técnica consiste em criar laçadas com o fio na agulha, que tem um gancho na ponta, formando diferentes pontos e padrões. Nesse bordado, a
criatividade é o ponto alto, podendo-se criar peças únicas e personalizadas, desde
roupas e acessórios até objetos de decoração para a casa, inclusive, reaproveitando materiais, como retalhos de tecido e fios de outros projetos.No Brasil, encontram-se técnicas de norte a sul do país e, em Alagoas, é muito popular em todas as regiões.

Autodidata de São Miguel dos Campos, Josse Leah contou com a presença de duas
mulheres para construir a marca Zicota: sua tia e sua avó do coração, que sempre
apoiaram seus sonhos. Após o curso de Produção de Moda na ETA/UFAL, desfilou
coleções, ministrou cursos e oficinas. Como participante do projeto Brasil Original do Sebrae, reposicionou sua arte, elevando a sua técnica ao handmade, como
bordadeira e designer, sendo um dos nomes de destaque do crochê em Alagoas.

Bordado Livre

O bordado livre feito à mão, como a própria nomenclatura indica, não apresenta
uma técnica padrão, permitindo criar desenhos e temas detalhados a partir do uso de tecidos e linhas com mistura de cores e pontos diversos. Em Alagoas, o diferencial é o uso de narrativas visuais e referências culturais para contar histórias, destacando a paisagem natural, personagens do folclore e do cotidiano, além de mitos e lendas das diversas regiões do estado. O bordado livre pode assumir tamanhos e formas diversas, a direção e a profundidade dos pontos, de acordo com o efeito desejado para cada peça. Seguindo a tradição ou inovando, as bordadeiras alagoanas vêm ganhando destaque em desfiles e feiras no Brasil e no mundo.

A história do grupo produtivo Fulô.A se confunde com a trajetória de sua
idealizadora, Ana Cristina Ferreira Santos, que ficou viúva muito jovem e encontrou
no bordado, um ofício para criar suas filhas. Tudo começou na Associação das
Bordadeiras de Penedo, base para o trabalho de empreendedorismo social que ela
desenvolve hoje, no Povoado Murici, no Baixo São Francisco. Articulada, ela lidera
um grupo de mulheres e vende suas peças em mostras de artesanato, lojas especializadas e também pela internet.

O grupo criativo Mimos de Dona Peró nasceu a partir do trabalho realizado por
Dona Perolina, uma professora de pintura e bordado que formou gerações no município de Capela, zona da mata de Alagoas. Inspirada na mestra, a ex-aluna
Luciana de Almeida Leite resolveu formar um grupo de bordado feito à mão. A ideia
começou a ganhar vida e a imortalizar essa técnica carregada de cultura e memória, que se tornou a Associação de Bordadeiras de Capela, com 22 associadas. O grupo vem ganhando destaque com suas peças em feiras, desfiles e vendas pela internet.

Singeleza

A renda Singeleza, com essa denominação, só existe em Alagoas e, por esse motivo, recebeu o registro de Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado. A arte pode ser encontrada em Paripueira, no Litoral Norte; Marechal Deodoro, no Litoral Sul; e Água Branca, no sertão. Sem muita variação de ponto, a técnica consiste numa trama simples, a partir de uma rede de nós repetidos dentro de uma mesma laçada, chamados “pipoca”, formando uma malha fina. O material utilizado é tecido e linha de algodão, agulha e bastão, que pode ser um talo de coqueiro ou uma haste metálica. O acabamento geralmente é feito com bainha aberta, o ponto ajour.

A Artecer, Associação de Rendeiras de Singeleza e Bordados de Paripueira, é uma importante ação de empreendedorismo social reconhecida nacionalmente, que reúne, em sua sede, dezenas de artesãs e movimenta a economia criativa na comunidade. Lideradas por Jeane Valentim dos Santos, elas não conheceram a 'guardiã' do bordado Singeleza em Alagoas, Dona Marinita, de Marechal Deodoro, mas repassam a técnica em encontros realizados em outros municípios do estado. O grupo contou com o apoio do Sebrae para treinamento em design, precificação e técnicas de vendas.

Ponto Caseado

O uso de pequenos cortes de tecido, os retalhos, numa combinação de estampas e
cores formando peças únicas, fez a fama de um grupo de bordadeiras do município
de Boca da Mata. O trabalho utiliza o ponto caseado, técnica de costura usada para
evitar que o tecido desfie, que se caracteriza por uma sequência de pequenos pontos verticais e retor, unidos entre si por uma laçada. A peça é arrematada com
bainha aberta ou ponto ajour. Os cortes milimétricos de algodão ganham as mais diversas formas a partir de um desenho básico que lembra um patchwork manual.

O grupo produtivo Amor Caseado reúne bordadeiras da zona da mata de Alagoas,
lideradas por Edneuza Teixeira. Ela começou sua vida de artesã como coordenadora da Casa da Mãezinha, uma ação de empreendedorismo social que incentivou a produção de peças feitas com retalhos de tecido, usando a técnica do patchwork manual. O grupo desenvolve coleções inteiras com seus pequenos recortes de algodão colorido, que se tornaram marca registrada da arte em tecido feita à mão em Alagoas.

Rendendê

Mais um bordado que chegou a Alagoas com os colonizadores portugueses, o rendendê tem origens muito antigas e, segundo os especialistas, deriva do artesanato da Europa do Norte. Trata-se de uma técnica que utiliza linha, agulha e tesoura, executada geralmente em tecido de linho preso no bastidor. Os desenhos são geométricos, formados por pontos cheios e abertos. Após a conclusão do bordado, o tecido pode ser recortado para destacar o centro do desenho ou em partes que não foram preenchidas pela linha. Os pontos caracol e estrela dominam
a preferência das bordadeiras alagoanas e, em muitas peças, as tramas são arrematadas com ponto cruz, tornando o trabalho ainda mais rico.

As artesãs da Associação de Bordados de Entremontes, um povoado ribeirinho em Piranhas, são guardiãs de uma tradição que virou ofício, divulgando o pequeno lugarejo no Brasil e no mundo. O rendedê e o ponto-cruz são as técnicas principais,
repassadas de mãe para filha. As tramas adornam as mais variadas peças, como roupas, toalhas, jogos americanos e guardanapos, feitas em tecido panamá. A Casa do Bordado de Entremontes ocupa uma casa colonial colorida, típica do vilarejo que, em 1859, recebeu D. Pedro II, durante sua viagem pelo Rio São Francisco.

Boa Noite

O nome vem de uma flor muito comum no sertão alagoano. Apesar de estar presente em outras localidades, o Boa Noite é o principal bordado da Ilha do Ferro,
povoado nas margens do Rio São Francisco, em Pão de Açúcar. A técnica empregada consiste em desfiar o tecido, tradicionalmente o linho ou o algodão, para compor faixas, rigorosamente geométricas, em motivos florais. O bordado (chamado pelas artesãs de “costura”) pode apresentar quatro diferentes composições: Boa Noite Simples, Boa Noite Cheio, Boa Noite de Flor e Boa Noite Variações. Para dar acabamento, faz a bainha aberta ou perfila a borda e em seguida corta o tecido, com cuidado, tudo feito à mão.

A Art Ilha, Cooperativa de Bordadeiras da Ilha do Ferro, nasceu de uma iniciativa
dos próprios moradores, com apoio do Programa Comunidade Solidária, Chesf e Sebrae Alagoas. Com sede própria, o grupo de mulheres cadastradas produz de forma individual, mas a compra de material é feita coletivamente. Parte do valor comercializado é usado para a manutenção do espaço, que virou ponto de referência na Ilha do Ferro.

Bilros

O nome da renda está diretamente ligado à ferramenta que se usa para tecer: os bilros, que são hastes feitas em madeira, nas quais os fios são enrolados. A movimentação dessas bobinas, constantemente trocadas de lugar, gera um som característico e também determina a forma de tecer, orientando o desenho e o ponto empregado na peça. Além dos bilros, o trabalho envolve a almofada, moldes,
alfinetes e linhas. A técnica nasceu na Europa e é amplamente encontrada no Brasil, desde o período colonial. Em Alagoas, uma artesã se confunde com a tradição do bilro: Dona Clarice Severiano dos Santos, de São Sebastião. Nascida em 1934, a mestra faleceu em 2012, mas passou sua arte para as novas gerações,
que continuam o legado da renda de bilros genuinamente alagoana.

Seguindo os passos da mãe, Maria Severiano dos Santos, a Maria de Clarice, foi reconhecida como Mestra do Patrimônio Vivo de Alagoas, em 2016. Ela conta que aprendeu a tecer desde criança e continua a tradição de passar adiante os ensinamentos de sua arte para os mais novos. Com seu trabalho e visibilidade, ela
tenta atrair a juventude para o artesanato, embora saiba que, hoje em dia, a cultura popular e os trabalhos manuais disputam o interesse dos jovens com a internet e as redes sociais.

Renascença

Assim como a maioria das rendas que predominam no país, a Renascença tem
origem europeia e chegou ao Brasil no século XIX. Ela é produzida em diversas regiões do país, principalmente nos estados nordestinos. A partir de um risco desenhado no suporte, é feito o alinhavo do lacê, uma espécie de fita de algodão. Em seguida, faz-se o preenchimento dos espaços vazios, entre os lacês, com agulha e linha, com pontos que variam de acordo com cada região.

A designer Djá Marques lançou a marca Flor do Mussambê com o objetivo de valorizar o feito à mão, em peças autorais que reinventam a tradição artesanal de Alagoas. Seus acessórios com a renda Renascença fazem sucesso em feiras, eventos e na internet. Ao ressignificar a renda, a Flor do Mussambê fortalece a cadeia produtiva e propõe novas abordagens para esse delicado trabalho manual.

Quer saber mais sobre esse artesanto incrível? Confira nosso e-book abaixo:

E-book Renda Pulsante

Ficha Técnica:

Curadoria
Marina Gatto (Sebrae)
Rodrigo Ambrosio (Projeto Renda-se)
Cenografia
Rodrigo Ambrosio


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