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Empreendedorismo

Doce mão: Inovar para empreender

Necessidade de ter uma atividade que lhe desse retorno financeiro e trouxesse gratificação profissional foram pontos decisivos para Simão tornar-se empresário

Doce mão: Inovar para empreender
· Atualizado em 11/02/2016
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O encanto da floresta

O empreendimento do ramo alimentício no segmento sorvete teria de ser diferente dos produtos tradicionais oferecidos na cidade. Com essa visão fortalecida, o empresário saiu em busca de informações, lançando mão de rede de contatos formada na atividade anterior e procurou outros dados com empresários que atuavam na praça há mais tempo.

Despertou-lhe o fato de que algumas frutas da região tinham aceitação e outras não. Atraía-lhe o som inconfundível dos nomes das frutas da Amazônia, tais como: taperebá, tucumã, bacuri, graviola, sapoti, pupunha, cupuaçu, açaí, bacaba, bacabaí, mucajá, anajá, castanha-do-pará e muitas outras. Por que razão só haveria mercado para o cupuaçu, açaí e graviola?

Com a finalidade de saber por que algumas frutas não eram consumidas pela população da região, procurou a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para saber dados técnicos das frutas chamadas exóticas. Se eram usadas pela população indígena e por animais silvestres, por que motivo anajá, mucajá, buriti, entre outras não agradavam aos demais habitantes locais?

Os dados técnicos fornecidos pela empresa de pesquisa eram tão surpreendentes que Simão passou a fabricar sorvetes com os sabores de frutas exóticas. Assim, decidiu que seu negócio seria adotar o estilo italiano na técnica de fabricação de sorvete e investiu em pesquisas sobre o gosto dos consumidores. Procurou ampliar a qualidade das informações nutricionais e se adaptar à tecnologia de fabricação, identificando exigências adicionais quanto à cremosidade, à acidez e ao teor de açúcar. Por exemplo, na comercialização de duas bolas de sorvete de tucumã – fruta amarela que dá em cachos em uma espécie de palmeira -, o cliente era informado de que aquele alimento fornecia 20 mil unidade de beta-caroteno que se transformava em vitamina A após a absorção pelo corpo humano.

Aprofundando as pesquisas com a EMBRAPA, desenvolveu as formulações para a fabricação de sorvetes, utilizando várias outras frutas exóticas locais somente utilizadas in natura até então. Esses sabores foram incorporados ao cardápio da sorveteria, mas era necessário conhecer novas tecnologias para conseguir fazer suas ligas. Isso levou o empresário a buscar ajuda em uma empresa fornecedora de equipamentos e produtos para sorveteria, localizada em Santa Catarina de nome “Duas Rodas”. Essa empresa ministrou curso em Macapá para os sorveteiros da cidade e demais compradores de seus produtos.

Assim, Simão provocou uma revolução no mercado de sorvetes de Macapá, ao colocar na praça novos sabores com as frutas exóticas. Conseguiu harmonizar tecnologia com o desenvolvimento sustentável. Conseguiu trazer ao ambiente local o som mágico dos nomes de frutas quase esquecidos por vinte famílias do encontro de Macapá, que passaram a ter ocupação fixa. Outras famílias são também fornecedoras esporadicamente.

O despontar de empreender

O Amapá, um dos últimos estados brasileiros a conquistar autonomia política, localiza-se na região Amazônica, no extremo norte do país, fazendo fronteira com a Guiana Francesa, e Suriname. É um paraíso para o ecoturismo. Contando com uma população de 422 mil habitantes e uma área de pouco mais de 140 mil quilômetros quadrados, ostenta uma excepcional variedade de ecossistemas tropicais. A população do estado concentra-se quase que totalmente na sua capital, Macapá, e no município vizinho de Santana.

A forte influência do serviço público federal na cultura do trabalhador local na época em que era território representava um entrave à implantação de negócios privados. As oportunidades de trabalho restringiam-se a poucas vagas nas empresas multinacionais, e a cargos na administração pública e em bancos oficiais. A emancipação do estado exigia que fosse dinamizada a atividade empreendedora privada, bem como a utilização sustentável dos recursos locais e regionais.

Várias iniciativas foram desenvolvidas para dinamizar a economia do estado, tais como: a criação da área de livre comércio de Macapá e Santana, no inicio dos anos 90, e a identificação de potencialidades locais e regionais. Entre estas destacam-se a movelaria, a indústria de minerais não metálicos, a aquicultura, a pesca extrativa, o amido de mandioca, o palmito, o óleo de dendê, o turismo ecológico, a castanha do Brasil e a agroindústria  de frutas tropicais.

O aproveitamento do rico potencial local para a produção de frutos tropicais exóticas, associado à oportunidade oferecida pelo plano de demissão voluntária de seu emprego no Banco do Brasil, levou Simão Lopes Cardoso e realizar seu sonho empreendedor – criar uma sorveteria oferecendo sabores de frutas locais.

O ramo escolhido por Simão era bem conhecido: seu pai. Manoel Cardoso de Melo, ribeirinho nascido na cidade de Breves, no Pará, também com espírito empreendedor aguçado, criou a família fabricando e vendendo picolé e sorvete em sua mercearia no bairro de Santa Rita em Macapá.

Simão, caçula de cinco irmãos, caboclo mateiro e conhecedor da várzea da ribanceira, teve o remo, a canoa e as talas de picolés como seus principais brinquedos de infância. Ao crescer, preferiu dar sequência à atividade praticada na infância, pois a considerava desgastante e de reduzida compensação financeira.

E foi exatamente no passado familiar que ele foi buscar a experiência requerida para desenvolver seu próprio negócio. Embora tenha se dedicado inicialmente à atividade bancária, que certamente lhe foi útil também na função de empresário, Simão sabia que teria de modernizar a tradição familiar. Em fevereiro de 1997, Simão surpreendeu parentes e amigos com a sua adesão ao PDV (Plano de Demissão Voluntária) do Banco do Brasil, aproveitando a oportunidade surgida para dar um novo rumo na sua vida.

A compra da primeira máquina para a fabricação de sorvete, adquirida diretamente de seu próprio pai, aliada ao espírito empreendedor e às preocupações mencionadas, levaram Simão a implantar a “Sorveteria “Doce Mão” em abril em 1997. O local de produção e venda era um pequeno espaço existente em frente de sua casa, adaptado para receber a sede de sua empresa legalmente implantada.

A busca pela qualidade

Em maio de 2011, o empresário foi surpreendido com o laudo da vigilância Sanitária do Estado que colocou a “Doce Mão” no rol das dez empresas de sorvetes contaminadas. Isso levou o empresário a buscar ajuda no Sebrae e no SENAI.

A questão prontamente solucionada com a intervenção do Programa de Alimentos Seguros – PAS (APPCC) e do Programa Sebrae de Consultoria Tecnológica – SEBRAETEC (PATME). Foram identificados os pontos do processo de produção que apresentavam contaminação, e sugeridas ações corretas e redução de custos. As orientações englobam práticas de fabricação e procedimentos padronizados para a higiene operacional. Esses programas custeariam parte das despesas de consultoria e orientação técnica, onerando o interessado em apenas 30% dos cursos.

Mas apenas o diagnóstico não era suficiente. Simão tinha a necessidade de modificar a área de manipulação de alimentos. Estava descapitalizado, mesmo assim, assumiu mais esse desafio. Procurou a AFAP (Agência de Fomento do Estado do Amapá) e obteve o crédito que precisava para reformar as instalações de sua empresa.

A sorveteria “Doce Mão”, além de ter tido as suas instalações adequadas, passou a fazer o controle das frutas (despolpamento) na própria empresa, de forma que se pudesse garantir a integridade da matéria-prima.

Imediatamente, após ter liquidado o empréstimo e resolvidas as questões de caráter sanitário que o incomodavam, Simão investiu no desenvolvimento tecnológico da empresa, buscando o que havia de melhor e mãos moderno em equipamentos. Passou a ter a mais moderna sorveteria existente em Macapá e começou a receber compensações e o reconhecimento da população, que passou a usar o termo carinhoso “Sorveteria do Simão”. Isso levou o empresário a fazer o trocadilho com o seu próprio nome, pois a empresa se chama “Doce Mão”.

A experiência da Sorveteria “Doce Mão” ilustra ainda a utilização correta dos recursos disponíveis nos diversos órgãos de apoio existentes no Brasil. Sem esses auxílios, Simão não teria resolvido muito dos problemas encontrados no caminho. Na verdade, Simão ama trabalhar com sorvete. Sua vocação, vinda do pai, Manoel Cardoso Melo, já tem um herdeiro: Danilo Magalhães Cardoso, o filho que trabalha ao lado de Simão, aprendendo a fabricar e a vender sorvete. Mais do que aprender a fabricar sorvete, Danilo está vendo, a cada dia, como transformar um sonho em realidade.

 

Colaboradores

Gestor de conteúdos: Maikon Richardson; Design gráfico: Rauan Maia; Revisão de texto: Liliane Ramos, Camila Melo; Digitalização: Camila Melo. 

Fonte: Histórias de Sucesso: Experiências empreendedoras. Macapá: Sebrae,2003


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