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Empreendedorismo

Empreendedoras do Amapá: Chibé Café

Maria da Silva Picanço descobriu após a separação do marido sua capacidade de empreender. Após anos de luta, sua empresa, a Chibé Café conquistou espaço e fama.

Empreendedoras do Amapá: Chibé Café
· Atualizado em 20/02/2019
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O café com amor de Maria

Maria da Silva Picanço Batista descobriu após a separação do marido a sua capacidade empreendedora. Depois de 10 anos casada, com dois filhos pequenos para criar, percebeu-se mergulhada na solidão e nas dificuldades cotidianas. O que a manteve forte foram os seus próprios sonhos de empreender algo que garantisse uma vida digna a seus filhos.

Seu empreendimento nasceu da descoberta de que podia sustentar a família com o que sabia fazer desde menina: bolos e doces. Começou então fazendo bolos por encomenda, criando receitas próprias que encantavam os clientes, até o dia em que precisou abrir uma empresa para atender às grandes demandas que lhe chegavam. Foram muitos anos de luta, e a empresa de Maria, a Chibé Café, conquistou espaço e fama no mercado. Mas o primeiro bolo que Maria vendeu foi feito em uma modesta cozinha que não possuía ao menos um fogão à gás.

A superação

Agora Maria sentia-se mais segura para trabalhar, mas as dificuldades não acabaram após a abertura da empresa, embora partes delas tenham sido superadas. Sua clientela foi crescendo, os serviços solicitados eram cada vez maiores, e Maria continuou trabalhando até as 18 horas diárias, com ajuda da filha e de funcionários que passou a contratar. Com todo o dinheiro que entrava, comprava louças, toalhas, equipamentos. Hoje a empresa tem material para atender a mil pessoas. O fogãozinho de quatro bocas ficou para trás, dando espaço aos dois fogões industriais que Maria adquiriu, junto com freezers e outros equipamentos.

A empresa Chibé Café se sentiu forte, apta a oferecer o melhor serviço de Buffet exigido pelo cliente. Participou de licitações e ganhou  diversas, pois oferecia também os melhores preços. Durante quase três anos prestou serviços para uma instituição do governo do Estado, o que lhe permitiu juntar o capital necessário para continuar tocando a empresa. Em algumas ocasiões chegou a contar com trinta pessoas trabalhando para a Chibé Café.

A confiança dos clientes também foi conquistada pelo capricho da empreendedora Maria, que sempre apresentou seus serviços em boa louça, em guardanapos bem cuidados, sucos feitos com água mineral, entre uma série de outros detalhes, como o sabor incomparável da sua tapioca, seu pão de queijo, suas tortas, seus bolos, o frango desossado recheado, receita herdada da avó... Maria sempre faz questão de finalizar seus pratos, mesmo em situações em que tem diversas pessoas para ajudá-la a preparar o Buffet. Não economiza nas receitas para não perder a qualidade. Até ministros visitantes do Estado provaram os quitutes preparados  pela bisneta de Mãe Luzia.

Com a renda de seu trabalho, Maria construiu uma nova casa sobre a casinha destelhada e sem assoalho da época em que se viu sozinha para criar os filhos. Indira e Alessandro hoje são formados na universidade, e até mesmo Maria, que havia abandonado cedo na vida o sonho de estudar, hoje é universitária do curso de Letras. Com a empresa em situação estável, ela agora pretende fazer o curso Empretec, oferecido pelo Sebrae. Diz que lhe falta apenas um pouco de tempo.

Herdeira de Mãe Luzia

Maria da Silva Picanço Batista é uma estirpe de mulheres que trazem em sua trajetória particular a nobreza do parentesco com a Mãe Luzia, uma parteira amazônida, negra descendentes de bantos, que morreu aos cem anos, depois de ter vivido para partejar. As parteiras do Amapá herdaram os ensinamentos de Mãe Luzia, que apesar de ter sido escrava, conseguiu deixar para a história da Amazônia o seu exemplo de perseverança e amor à vida.

Maria traz em si muito de Mãe Luzia, sua bisavó. Nasceu, cresceu e até hoje mora no bairro do Trem, onde iniciou, depois de uma infância pobre e de uma juventude cheia de percalços, o seu percurso de mulher empreendedora. De uma família de sete filhos, viu a mãe lavadeira trazer o sustento de todos da lavagem de roupa, e aprendeu desde cedo, como ela própria diz, “a matar um leão a cada dia”.

Aos 51 anos, ela não tem uma história muito diferente de milhares de Marias, Raimundas, Joaquinas, brasileiras, lavadeiras, cozinheiras, arrumadeiras, que não encontram desde cedo o começo da vida outro caminho que não seja o da luta diária pela própria sobrevivência.

A diferença que Maria guarda das outras é a de ter vencido seus próprios limites e ter ido além de ter apenas o pão de cada dia. Empreendedora do ramo de Buffet, hoje é proprietária da microempresa Chibé Café, que prepara e serve almoços, cafés da manhã, jantares e lanches para empresas, instituições, e festas familiares. No cardápio, uma das paixões de Maria: os pratos regionais, que oferecem garantia de retorno do mercado de Macapá, onde Maria atua.

Depois de dez anos de casamento e de uma vida difícil, de muito trabalho e privações, Maria se viu separada do companheiro, morando com os dois filhos pequenos, Indira e Alessandro, em uma casa destelhada, sem assoalho, sob a luz de uma única lâmpada.

Naquela ocasião, nenhuma madrugada Maria atravessava sem a preocupação com o dia seguinte, com o alimento e a escola dos filhos, que só ela teria que prover. E já naquela época fazendo bolos por encomenda, sempre acreditou que poderia um dia vencer e dar aos filhos uma vida confortável. Aos poucos foi percebendo que podia sustentar a família com o que sabia fazer desde menina. Criou uma receita própria do famoso bolo Maria Isabel, feito com a massa de pão de ló, e em certa época chegou a manter a família só com a venda do bolo.

A partir de então, empenhou-se cada vez mais em aceitar as encomendas que surgiam, pois a condição em que vivia não lhe permitia recusar serviço. Mas a empreendedora que havia dentro de si não começou a trabalhar neste ramo porquê alguém lhe disse que era bom. Começou porque, além de gostar de cozinhar, entendia muito bem do assunto.

As encomendas foram crescendo, Maria realizava o serviço, trabalhando na informalidade e sem capital de giro, e nem sempre possuía recursos para a emissão da nota fiscal pela prefeitura. Mas nunca pensou em desistir.

A primeira grande encomenda pegou-a de surpresa: um café da manhã para 300 pessoas. E ela só possuía 40 xícaras, presente de uma amiga que a incentivava. Em um fogãozinho doméstico de quatro bocas que levava horas para ferver uma panela, e com a ajuda de uma frigideira, Maria precisava fazer 300 tapioquinhas. Trabalhou a noite inteira, com a ajuda de Indira, já adolescente, e superou as dificuldades da falta de material com pequenos empréstimos e compras de crédito. E não deixou de atender a contento o primeiro grande cliente que se apresentava.

Depois deste vieram outros grandes clientes, até que um deles exigiu contrato com entidade jurídica, e Maria percebeu que não poderia continuar trabalhando na informalidade, como vinha trabalhando, há cinco anos. Foi quando resolveu, também por estimulo de uma amiga, procurar o Sebrae do Amapá e a legalizar a empresa que já existia de fato.

No Sebrae encontrou uma antiga colega de escola, que sabia de sua luta e a ajudou a tomar as providências necessárias para que no menor prazo possível sua empresa estivesse pronta para ter um funcionamento legalizado. Para ajudá-la, a filha Indira fez o curso “Como gerenciar uma empresa”, no Sebrae.

De igual para igual

A empreendedora conta que não foram poucas as humilhações que sofreu na sua luta pelo sucesso da pequena empresa Chibé Café. Mas são histórias que ela prefere não lembrar. Pois daí tirou as melhores lições e hoje sabe muito bem como administrar seres humanos nos seus mais diversos defeitos. Uma das situações singulares vividas por Maria, nestes anos de luta, ocorreu algum tempo atrás: precisou ir a uma loja comprar 150 taças de cristal para servir um Buffet a autoridades, e chegou a sofrer a humilhação de não ser atendida por causa da maneira como estava vestida – com a barra da saia salpicada de trigo e calçando chinelos.

Julgada pela aparência humilde, Maria passou mais de uma hora andando pelos corredores da loja, seguida à distância por uma vendedora, até que a própria gerente percebesse o seu constrangimento e viesse atendê-la. E nesse dia, ela possuía cerca de três mil reais dentro da bolsa, adiantados pelo cliente, para comprar taças. Depois do que passou, Maria aprendeu que hoje pode tudo, porque tem força de vontade, perseverança e capricho. Sente-se com o dever cumprido e está escrevendo um livro sobre a sua vida. Ele certamente é um exemplo para outras pessoas que estão abrindo seus negócios.

 

Colaboradores

Gestor de conteúdos: Maikon Richardson; Design gráfico: Rauan Maia; Revisão de texto: Liliane Ramos, Camila Melo; Digitalização: Camila Melo.

Fonte: Histórias de Sucesso: Mulheres de Negócios do Amapá. Macapá: Sebrae/Ap,2007


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