A artesã que empreende
Bem jovem aprendeu a fazer bombons de chocolate artesanais em casa. Com espírito empreendedor, sempre esteve atenta ao mercado, e quando ouvi falar da necessidade de se ter um bom produto regional de primeira qualidade para comercialização no Mercado da Floresta – local que vendia produtos regionais para os turistas-, começou a amadurecer a ideia de atender a esta demanda.
Karin então desativou uma sala da casa de sua mãe, onde morava, e a transformou no espaço em que os bombons passaram a ser produzidos. A empreendedora imaginou um bombom diferente, no nome e nos sabores, e assim nasceu a marca Sabor Tucuju, cujos bombons têm o gosto da natureza do Amapá.
Incorporando valores
Dentro da incubadora Karin passou a adquirir conhecimentos necessários para a comercialização do seu produto no mercado como o Programa de Alimento Seguro – PAS, formação de preço e venda e cálculo dos custos, registro da marca do seu bombom, a influência do design na embalagem (quando começou a se preocupar com a imagem do produto). O nome Sabor da Terra – Bombons e Souvenirs foi substituído por Sabor Tucuju, “um nome muito feliz porque tem tudo a ver com a história do Estado e de seus primeiros habitantes”, declara Karin.
O nome foi patenteado e Karin começou a desenvolver embalagens artesanais, utilizando como matéria prima, a casca do cupuaçu, o ouriço da castanha do Pará, a cuia, o saquinho de juta e o saquinho de tururi, uma fibra encontrada somente nas florestas do Amapá. Foram criadas também as embalagens temáticas, trazendo sempre um pouco da história e das peculiaridades do Estado, que por muitos anos esteve atrelado ao Estado do Pará e após a emancipação passou a ter necessidade de destacar a sua própria cultura.
Do coral aos bombons
A imagem que muitas pessoas em Macapá vão ter para sempre de Karin é a da jovem regente do Coral Mãos que Falam, embora suas atividades com a fábrica de bombons Sabor Tucuju a tenham projetado para o sucesso como empresária. Formado por portadores de deficiência auditiva pode se comunicar e ter uma vida normal. O trabalho de Karin era voluntário. Ela é intérprete da Língua Brasileira de Sinais e o coral encantava quem assistia às suas apresentações, com números desenvolvidos através dos sinais manuais, com fundo musical mecânico.
A boa vontade se seu trabalho voluntário já demonstrava a sua capacidade para lidar com o público e a sua sensibilidade para as mais recônicas delicadezas da alma humana, juntamente com seu capricho são ingredientes que ela coloca hoje na produção de seus bombos de chocolate regionais. Karin Cristina dos Reis Brício chegou a Macapá em 1993, com os pais e dois irmãos, para juntos recomeçarem partindo do zero. Vieram de Belém e as esperanças que trouxeram na bagagem lhe deram forças para viver em tempos difíceis.
Karin tinha 18 anos. Casou-se pouco tempo depois e hoje tem dois filhos: Jean e Sara. Foi depois da segunda gravidez que os bombons regionais surgiram em sua vida. Pois, até então, se dedicava somente à criação dos filhos, à sua casa e ao Coral Mãos que Falam.
Em 2000, Karin pôs seus produtos no “Mercado dos Produtos da Floresta”, ponto de comercialização no Estado que tem como objetivo dar oportunidade ao escoamento da produção de produtos a partir da matéria-prima regional. Karin, como boa empreendedora, viu neste local uma grande oportunidade de expor os seus bombons, chance rara essa, em um local bem centralizado, onde poderia colocar sua
obra junto com mais diversas mercadorias regionais que atendiam à procura local e encantavam os turistas, vindos, na maioria, do Sul e Sudeste do Brasil, bem como da Europa.
Tudo aconteceu ao mesmo tempo: na ocasião, Karin ouviu falar da necessidade de se ter um bombom regional, de primeira qualidade para a comercialização no Mercado. E mesmo sem os recursos que seriam indispensáveis a um bom começo, iniciou a fazer os bombons. Desativou uma sala da casa de sua mãe, onde morava, e a transformou em um espaço onde os bombons de chocolate podiam ser produzidos. Os primeiros foram vendidos (fora das encomendas dos conhecidos), exatamente, para o Mercado de Produto da Floresta e para uma pequena loja, que na época funcionava nas dependências da histórica Fortaleza de São José e na Casa do Artesão, no centro da cidade. Do gosto e do jeito da terra.
Os recheios dos bombons de Karin eram de sabores variados, como: taperebá, cupuaçu, coco, tapioca, muruci, e com o tempo ela foi diversificando ainda mais, criando novidades para conquistar o consumidor até que chegou a uma linha completa de bombons, com criações como o Sonho Cacucho, cujo recheio misturava cupuaçu com Castanha-do-Pará, e também o Sonho Tucuju, feito com chocolate branco e recheio de açaí. Na época a fábrica se chamava Sabor da Terra – Bombons e Souvenirs.
Os produtos de Karin foram se tornando conhecidos, além dos pontos de comercialização onde já estavam expostos, então a empreendedora se lançou em busca de muito mais, assim iniciou a sua participação em feiras diversas, como o Equinócio, a ExpoFeira e na Feira do Desenvolvimento Sustentável. Em 2002, um técnico do governo responsável pela incubadora de empresa do IEPA em parceria com SEBRAE, prospectou o trabalho de Karin como inovador e a convidou para conhecer a incubadora de empresas, que oferecia aos pequenos empreendedores o suporte na área de produção, com tecnologia, consultorias e aplicação das boas práticas de fabricação, entre uma série de outros serviços. Karin aceitou a proposta de ter sua empresa incubada.
Uma nova fase
A empresa foi legalizada e então houve a necessidade de ter um espaço mais adequado à produção dos bombons. Isto coincidiu com o convite para que a fábrica fosse incubada residente, ou seja, se instalasse e passasse a produzir no prédio da incubadora de empresas, que na época funcionava no parque de exposições da Fazendinha, em Macapá, e hoje está situada no bairro Universidade. Como incubada residente, a fábrica é isenta de registro no Ministério da Saúde, mas em contrapartida tem que oferecer alto controle de qualidade em seus produtos, além das mesmas obrigações de qualquer outra empresa que paga impostos.
As máquinas e equipamentos da fábrica foram comprados com recursos de financiamento bancário. São freezers, derretedeiras, mesas de material inoxidável, fogão industrial, formas, entre outros. O bombom Sabor Tucuju é semi-industrial, não é manuseado em sua produção. O manuseio só é feito no momento de embalar.
Hoje os bombons são vendidos em diferentes supermercados de Macapá e de Santana, em pequenos comércios, na Casa do Artesão e no Mercado de Produtos da Floresta, além dos clientes particulares. Mas não foi fácil colocar os produtos à venda nos grandes supermercados. Karin conta que lutou muito para convencer alguns empresários, que preferiam comprar de fornecedores de fora do Estado por não acreditar que os produtos locais poderiam honrar com os compromissos de produção e continuidade do fornecimento. Segundo a empreendedora, esse conceito vem mudando gradativamente e já é possível encontrar diversos produtos regionais nos grandes supermercados.
No ano de 2005, Karin forneceu três remessas de bombons para um revendedor em São José do Rio Preto – SP, mas tem uma opinião bem particular em relação às vendas para fora do Estado: “Quando você senta para negociar com grandes empresários de outro estado, você percebe que eles não querem fazer um contrato, ficar atrelados e ter que comprar sempre seus produtos. Muitas vezes o empreendedor se rende a certa exigência para conseguir um espaço e nem sempre esse preço é fixo”. Através do Sebrae, Karin tem participado de diversas feiras em outros estados brasileiros, e por onde anda seus bombons são sempre muito apreciados.
Trabalhando com o marido, mais duas funcionárias contratadas para a produção direta e uma vendedora que realiza a distribuição ao comércio, Karin agora estuda um projeto de comercialização dos bombons avulsos em miniboxes, bares e farmácias, pois nem sempre a clientela procura pelos bombons agrupados nas embalagens temáticas.
A massificação da marca Sabor Tucuju, já bastante conhecida no mercado local é outro plano de Karin. “Eu preciso fazer com que as pessoas possam valorizar isso”. Além disso, quer que sua fábrica tenha seu próprio espaço, de preferência bem ao lado de sua casa. Mesmo com o sucesso como empreendedora, Karin não se desvencilha de sua raiz de artesã. “Considero-me não uma empresária, mas uma artesã que empreende”.
A sabor Tucuju emprega a família de Karin mais três empregados diretos, sem contar com os semi-indiretos, que são vendedores de frutas e os artesãos que fabricam as embalagens para os bombons.
Colaboradores
Gestor de conteúdos: Maikon Richardson; Design gráfico: Rauan Maia; Revisão de texto: Liliane Ramos, Camila Melo; Digitalização: Camila Melo.
Fonte: Histórias de Sucesso: Mulheres de Negócios do Amapá. Macapá: Sebrae/Ap,2007